aquarela do autor

(de esporadicidade imprevisível)

Nexos

15/05/18

A aba do ábaco do abade abriu a brecha em sua batina. Não, não se trata de principiar-se aqui uma cartilha e, menos ainda, eventual vocabulário ou dicionário, mas calhou-me querer começar pelo começo e, para ser literalmente literal, nada é anterior à letra A e aba cai bem para a secundar e trazer à baila, quase por automatismo, o ábaco — este, sim, carregado de pessoal admiração e lembrança de seu uso corriqueiro em restaurantes asiáticos, com destreza, rapidez e eficácia, a substituir calculadoras eletrônicas comuns alhures e amiúde requisitadas até para multiplicar ou dividir por dez! — seguiu-se, inconsequente o abade e sua batina, com a respectiva brecha, sempre uma abertura possível para a recepção do inconfessável ou o extravasamento do impublicável.

O marinheiro, no tombadilho do transatlântico, pergunta circunspecto ao comandante: "comandante, se pode dizer que algo se encontra perdido quando sabemos onde está?" e o comandante, condescendente, assegura: "claro que não, bom homem!" "Que alívio!", o recruta retruca, "a sua bandeja de prata não está perdida, pois sei muito bem que se encontra no fundo do mar". A brincadeira com palavras seguia-se às lições de francês e tornavam o livro didático "Le Français par la Méthode Direct" definitivamente atraente aos jovens estudantes.

No mesmo livro, outras brincadeiras de fim de capítulo, incluíam uma charada já resgatada aqui, onde um abade faminto atravessa Paris sem cear e inúmeras outras equivalentes, com curtas fabulações a torná-lo inesquecível. Os truques de nossos cérebros, por seu turno, tecem a seu bel prazer vínculos entre vestígios dispersos de memória e trouxeram à tona o marinheiro ao se lembrar do abade.

Aliás, o livro de Francês foi indicado e usado nos domínios de uma abadia, o colégio e mosteiro de São Bento.

Tue, 15 May 2018 18:23:57 -0300

gostei, mas não entendi bem, você anda misterioso, simbólico, cifrado ou sou eu que estou lenta?
Para que a vírgula depois de “francês" na penúltima linha? Justiifcaria - ou justificar-se-ia - se o “aliás” estivesse ali, depois da vírgula, antes de “foi”.

Adoro essa ilustração, de quem é mesmo? sua?

      sem assinatura

O importante e você gostar.
Creio não haver nada além do mais ululante dos óbvios.
Certamente não seria você a lenta, mas eu o incompetente.
Nenhuma explicação para a vírgula. Vou tirá-la.

Sim, é uma aquarelinha bem velhinha já...

Merci.

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