autor, circa 1996 Crônica do dia

Novo vizinho

14/10/08

Desde ontem um novo assobio não deixa dúvidas do empenho do novo morador em anunciar sua presença, declarar seu o território ou, simplesmente, conclamar alguma fêmea a aventura de uma vida a dois.

É um assobio, ou pio, alto, conspícuo, onde uma nota só se repete a cada segundo mais ou menos. Diante de tal clamor auditivo, logo passei a perseguir o som, em busca de materializar um audiovisual. Porém, cada vez que ia em direção ao som, percebia a fuga da ave, pois logo ouvia seu canto mais longe.

Hoje, a chegada de um pássaro grande ao poleiro de um galho me chamou atenção e, surpreso, me vi diante de um ser inédito para mim. Do tamanho aproximado de um pica-pau, sem crista, talvez com um pequeno topete, de coloração geral parda com a garganta cor de laranja. Uma larga coleira laranja bem visível. Enquanto tentava desvendar detalhes num bicho a mais de 15 metros, no alto de uma árvore, ele começou o assobio, ou pio forte se preferir, depois, parou, voou para a próxima árvore, lá, cantou mais uma vez e, quando decidi dar uns passos em sua direção, foi-se, num vôo em arco, primeiro descendente para depois subir.

Sua voz continua a encher o espaço, ora de um lado, ora de outro. Sempre peremptória, determinada e se mistura a outros cantos, pipilares e os inevitáveis latidos.

O dia de primavera se fantasia de verão e o calor afaga a alma. Ao redor do meio-dia, a luz dura e quase vertical delineia sombras bem definidas e cria, pelo contraste realçado, recantos sombrios, verdadeiras grutas de folhagem que uma amiga batizou de bosques da Branca de Neve.

Uma ou outra formiga transita pelas trilhas de colheita, sem folhas. Debaixo de chuva, muitas iam e vinham e a colheita seguia. Agora, o calor forte parece as ter obrigado a descansar. O ar parado e as folhas imóveis condizem com o quadro de verão.

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