O caso do pescado

22/04/15

imagem da Wikipedia
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Chegava ao balcão de limas-da-pérsia quando fui interpelado por uma senhora baixa, sorridente e a me exibir uma bandeja de sardinhas ou outro peixe parecido, limpo, por tanto, com entranhas expostas e embalado. Ela falou do frescor ou outras qualidades do produto, certamente adquirido ali no supermercado.

Minha incompetência para lidar com imprevistos e com estranhos é monumental. A reação instintiva (o que não significa adequada) foi tentar livrar-me apressadamente da pequena e rechonchuda senhora, sem atentar a nada, sem permitir nenhum acesso e, muito menos, possibilitar o estabelecimento de qualquer tipo de relação, ou seja, uma reação horrível.

Ela aparentemente viera exaltar as qualidades do pescado com as quais concordei de imediato, sem compreender nada e logo declarei não saber preparar peixes, embora os gostasse de consumir. Tanto bastou para ela, docemente, começar uma lição de culinária, salientando temperar assim e assado mas, enfatizou, sem pimenta do reino e logo fez uma ressalva para a possibilidade de a usar, caso gostasse...

Nessas alturas eu já me blindara de tal forma a restar-me apenas pôr aqui um ponto final na abordagem pesqueira. Não sei como terminou o que ali se entabulava. Talvez um fato externo à conversa tenha definido seu fim, talvez eu tenha dito algo descabido e ela se afastou, talvez alguém a tenha chamado - não sei, por mais estranho que seja.

Em situações similares - creio que quando algo em mim se sente ameaçado - cresce uma blindagem a me isolar emocionalmente e deixo de registrar os fatos. Isto já me levou a suspeitar de ser portador de um grau leve de autismo.

Para coroar o caso é preciso contar: já fiz sardinhas para um amigo, há muitíssimos anos, é verdade, escamando e limpando uma por uma, inclusive e, se bem me lembro, ele gostou muito.

22 Apr 2015 08:33:06 -0700

andas observando bem as reações, emoções, mente ... interessante

Quem sabe por causa da velhice...


Thu, 23 Apr 2015 21:00:47 -0300

Blindado ou não você soube bem se abrir para essa crônica. Beijo
A

Bom ouvir essa voz!
Talvez, mas dela ainda ignoro o epílogo...

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