Engana-se quem espera encontrar aqui histórias de alcova. O quarto em epígrafe não refere a câmara ou aposento nem a enredos libidinosos. Trata-se tão somente do Quarto Concerto para Piano e, sendo eu a mencioná-lo, torna-se pleonástica a menção do autor: Beethoven, com certeza, compositor, para mim, com conexão direta à fonte primordial.

Ontem, liguei o rádio pouco depois das dezesseis horas e a Cultura FM começara apenas a transmissão daquela obra-prima, que há muito não ouvia - não costumo colocar discos (ainda se chama assim?). Envolve-me muito mais surpresas de uma escolha alheia, como esta, e o Concerto, mal começado, arrebatou-me até o último acorde, em prova cabal de ser a música linguagem universal, inteligível além da palavra, em diálogo franco com a emoção, isento das trapalhadas da razão.

Quando se avizinhou o final do terceiro movimento as lágrimas fluíram independentemente de mim. Beethoven transcende, em meu incógnito interior tudo mais que já se fez em música. Claro, Bach é extraordinário, existem muitos etc., mas não cuido de determinar um primeiro lugar ou avaliar e hierarquizar qualidades, apenas conto o se passa comigo. Não luto por um Guinness para o gênio de Bonn, não o proclamo maior ou melhor: relato uma experiência vivida com a surpresa de um reencontro musical. Conhecia bem o Quarto Concerto mas, talvez o encontro inesperado me tenha propiciado ouvi-lo como nunca antes.

Via de regra (impossível usar esta locução sem lembrar de antigo comentário de uma leitora afeita a brincar com palavras), via de regra, dizia, somos um imenso enigma para nós mesmos - pouco sabemos do que nos vai na alma e levamos a vida no piloto automático. Desta inconsciência, meu espanto desmesurado ao ouvir música diretamente da fonte primordial.

Num dia é o Quarto, em outro, o Quinto...

Tue, May 22, 2012 1:58 pm

Gostei! Não conheço muito bem o quarto. Depois dessa, fiquei até com vergonha! Pronto: vou ouvir e te falo!

Bjs

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Vergonha!?!

Que bobagem. Não se amofine.

Contei uma vivência minha. Não pretendo que outros sintam, pensem etc. como eu.

Wed, May 23, 2012 4:37 pm

Adorei a crônica, Clode.
Vou tentar encontrar uma gravação.

abs!!

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Obrigado
Por que será que seu elogio me soa mais elogioso?

Thu, May 24, 2012 5:12 pm

A música, seja no porão da Sorocaba, na cozinha, na sala... em cada lugar por onde passo ou fico, agora mesmo, aqui na redação do Fantástico, sempre sempre mais e mais música. claro que o quarto é um Concerto muuuuito especial.
Mas sempre a música se alarga, inunda e multiplica. ouço música sem intervalo. e todo, todo tipo de música. ando com a peneira tentando pescar mais e mais estréias - o fascínio da descoberta de um som nunca d'antes navegável. e logo surge outra estréia. da mais simples canção popular até a mais sofisticada d algum compositor recem chegado.
fico correndo atrás do q nunca ouvi... ainda. e logo surge outra, dobrando a esquina... bem vinda música.

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Cresce minha desconfiança de ser um cara muito conservador...