crônica do dia

O sopro

10/02/04

Nos últimos três ou quatro dias, o amanhecer foi frio demais para o verão, que muitos já chamam de outono, com madrugadas de 16 graus em São Paulo. Como um espectro, o inverno de Nova York paira sob o excesso inusitado de neve e como ameaça a nosso junho e julho. Por aqui, árvores parecem acreditar na mudança precoce de estação e se despem das velhas folhas no preparo da nudez de inverno.

Mas são manhãs esplêndidas, de transparência puríssima: uma bênção para o olhar. Céu de azul impecável e atmosfera lúcida a permitir detalhes raros do que está muito longe. A leste, os espigões da grande cidade se destacam, com prédios encimados por antenas altas. Dá para reconhecer as avenidas Paulista, Heitor Penteado e Cerro Corá. Por certo nomes absurdos para quem não conhece o aglomerado gigantesco, sempre coberto por uma massa de gás marrom.

O espetáculo dura pouco. Logo começam a chegar, céleres, nuvens baixas e brancas, de leste para oeste. Hoje, com mais precisão vieram de nordeste para sudoeste. Chegaram intercaladas por pequenos intervalos de azul, até cobrirem tudo. Pior: vêm impulsionadas por vento frio, que faz a temperatura parecer ainda menor. Só mais tarde se dissiparão em tarde ensolarada. Agora, dez e meia, o céu está branco, vez por outra passa um buraco azul. O vento é frio e úmido no verão do trópico.

Greta Garbo

Mulheres e homens do tempo explicam que tudo isso é conseqüência de grande massa de ar frio, que veio do Pólo Sul e está ao largo, sobre o Atlântico, em nossa direção, a provocar redemoinhos e coisa e tal. A imagem que faço é outra, de uma deusa divertida, que por um momento parou de secar a bela e longa cabeleira e deixou seu braço pender, ao lado do corpo divino, com o secador ligado. Por acaso, bem ali, sobre o litoral da América do Sul. O sopro nos traria toda a umidade do mar...

 

|home| |índice das crônicas| |mail| |anteriortem carta...

2453046.521