foto de 1966 da carteira funcional do Jornal do Brasil

(de esporadicidade imprevisível)

O tempora, o mores!*

13/07/17

São decorridos, como costumavam anunciar outrora os locutores de futebol pelo rádio, entre os quais Ary Barroso, são decorridos dezoito anos, uma maioridade inteira, desde que aqui se contou o caso da dona Ruth, a recatada telefonista da Sucursal do Jornal do Brasil em São Paulo.

O caso, ali pretexto para crônica, no entanto, remetia a tempos bem mais remotos e tais viagens na máquina do tempo de nossas memórias são sempre cheias de aventura e imprecisão. Os meados da década de sessenta trazem cenário e costumes inconcebíveis para a jovem ou o jovem que conquista agora sua maioridade.

Neste meio século tudo mudou tanto, exceto o ser humano. Lembro bem de quanto me marcou naqueles idos, por exemplo, a Guerra dos Seis Dias entre árabes e judeus. O Homem fazia guerra outrora como sempre fez e ainda faz. Era incapaz de amar então como ainda o é hoje, malgrado naquele tempo os hippies pregassem insistentemente paz e amor, mas bem sabemos da inutilidade das pregações. Naquele ano, os Beatles lançaram "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"...

fotografia de autor ignorado tomada defronte a Sucursal do Jornal do Brasil, na Avenida S. Luiz
fotografia de autor ignorado tomada defronte à Sucursal do Jornal do Brasil, na Avenida S. Luiz

O jovem repórter fotográfico da fotografia antiga carrega, agora, mais cinquenta anos nas costas e na imagem transparecem as mudanças trazidas pelos tempos e, em particular, pela tecnologia, por este factótum absoluto dos dias atuais, capaz de substituir tanto o fotógrafo com sua câmara, carregada com filme fotoquímico, como o PABX da dona Ruth com seus fios grossos e pinos avantajados.

A areia escorre na ampulheta virtual ininterrupta e eternamente, sempre a desafiar nossa compreensão desta grandeza física cheia de mistérios, deste componente poderoso de nossa psique, capaz de forjar promessas, quimeras e perturbar com o prolongamento do que já não é mais. Tempo, tempo, tempo...

Tempo! - trama inexorável onde se bordam nossas vidas.

Thu, 13 Jul 2017 10:56:03 -0300

a cara do Rafa !

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A que você se refere? Ao texto, à época ou à fisionomia do retratado?


Thu, 13 Jul 2017 18:06:02 +0200

que o tempo nos abençoe, e eu possa te encontrar muito mais

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Amém!
Quando for a São Paulo aviso e combinamos alguma coisa.


Thu, 13 Jul 2017 10:44:24 -0700 (PDT)

nossa, Clode, Cau, meirmao, Claudio
como eu adorei, tudo! o conteudo, formato, imagens, estilo ortografico ...

qts anos vc tinha na primeira foto, lah em cima, ao lado do nome da cronica?
um garoto!!!

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Obrigado, apesar da suspeição que a irmandade implica.

Aquela fotografia é da identidade funcional do Jornal do Brasil, por isto a escolhi.

A data no documento (de sua expedição) é, ironicamente, primeiro de abril de 1966, eu tinha, portanto, pouco mais de 22 anos...

detalhe da carteira funcional
detalhe da carteira funcional


Fri, 14 Jul 2017 21:56:42 -0300

LINDO!!! tudo lindo: a crônica, as referências históricas, as fotos, a diagramação, a cor............
Beijos de Registro, que tem este nome por 2 possibilidades:
1. seria o local de registro, num posto do governo, do ouro aqui encontrado na "corrida do ouro" que ocorreu aqui antes de se achar o metal em Minas, quando aqui ele se esgotava.
2. seria o posto de registro dos imigrantes japoneses que, a partir de 1913, chegavam no porto de... não me lembro se Peruíbe, Cananéia ou o que, aqui no litoral Sul de São Paulo, e subiam até este lugar aqui pelo rio Ribeira.

Um trouxe escondida uma mudinha de chá que aqui se plantou e ainda se planta, o chá verde e o chá preto. Outro trouxe, dizem que dentro de um guarda-chuva, uma muda de junco japonês que idem se espalhou e com o qual se fazem (ou se faz) ainda esteiras e outras peças de palha tecidas em antiquíssimos teares japoneses (se quiser, um dia mando o filminho desa máquina louca em funcionamento) ou trançadas à mão, como os chinelos.

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Obrigado.
Agradeço também a aula.
São espécies diferentes o chá verde e o preto?
Tivemos um pé de chá, mas nunca soubemos direito como lidar com suas folhas...
Quero, sim, ver a máquina de processar junco.
Deve ser Cananéia, eu acho...


Sat, 15 Jul 2017 08:57:41 -0300

Oi, Clôde

Li o Dona Ruth - muito boa. Mas fiquei pensando: quando a gente é jovem, a mesmice incomoda.
Mas agora, muitas vezes sinto mais como confortável... Reler, por exemplo. Em alguns casos, é porque
a memória não ajuda, sei que gostei mas não lembro muita coisa (ultimamente andei relendo Quarup, que
na época me marcou bastante). Outras vezes, é pelo conforto do conhecido. E talvez, também porque livros
novos, ainda não lidos, muitas vezes parecem tão dejà vu! Acabo abandonando e pegando um dejà lu...
O próximo da fila é Grande Sertão.

Bjs
Ana

Oi, Ana,

Obrigado.

É verdade, a mesmice incomoda quando somos jovens, mas eu tinha 65 anos quando escrevi Dona Ruth. Não estava no auge da juventude...

Quanto a reler, concordo amplamente com você. Também tenho preferido reler a me aventurar na "mesmice" dos novos autores. No momento, por exemplo, releio com muito gosto "A Pedra do Reino", de Suassuna. Da mesma forma, acabo preferindo rever a me aventurar nas novidades da Netflix. Também ali revejo agora o Dr. House, com o mesmo entusiasmo da primeira vez.

Pode ser o conforto do conhecido, sim. Pode ser ainda a perda do ímpeto de aventura tão marcante na juventude, não sei. adorei sua penúltima frase.


Sun, 6 Aug 2017 10:10:40 -0300

Hei hei, Mermão!
Quanto quanto tempo, hein?!
O malandro aqui andou metido em uma porção de coisas, inclusive um temporada em Paraty, aquela pequena e querida cidadedezinha. Passei uma deliciosa temporada já. Enquanto a Bia trabalhava direto por lá, eu passei boa parte do tempo brincando com crianças... Agoooro criança. Brinquei demais, sentado no chão, quase sempre. Afora isso, tinha as dicas da Bia, que de longe me avisava: não deixe de assistir tale tal e tal palestra e muito mais. Aconteceu até uma peraltice em alto mar. Nunca pensei que teria coragem de pular em alto mar... e logo eu, um cara que quase morreu, vê se pode? Mas sobrevivi direitinho. E repito: brinquei demais. E participei de palestras especiais, como a de uma senhora negra, de Curitiba, emprega... o depoimento dela sobre o horror da discriminação... inesquecível!
Espero estar por lá da próxima vez, ano que vem.
E você por aí, como vai indo o vai de vem de todos os dias?
Alguma viagem à vista, por acaso?

Lindo domingo por aí.

bjo

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Alô, alô,

Você some, gosta de viajar.
Que bom que você se meteu em muitas coisas em sua temporada em Paraty e pode curtir cada uma, inclusive mergulhar em alto mar... Corajoso você.

Também adoro as crianças, cada vez mais, mas acho que não saberia mais sentar no chão.

Aqui seguimos como velho e preguiçoso que sou. Devo ir ver coisas da casa. Se for, combino para nos vermos.

bjs, c.

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