auto-retrato 

O gato e o esquilo

09/05/11

Árvore não tem rabo, foi a primeira coisa que me ocorreu. Todavia, diante de mim, uma jovem árvore sacudia um belo rabo, como um ponto de interrogação peludo. Aproximei-me do fenômeno enquanto o esquilo, de cabeça para baixo no tronco, sincronizava seus guinchos com o movimento da cauda. Agora de perfil, mostrava seu corpo, bem menor que o rabo e só atinei com a semelhança a uma ratazana ao descobrir seu predador sentado como divindade egípcia sobre o estreito topo de um muro que corria, pintado de creme, rente à árvore.

O gato ou gata, cinzento e branco, com uma fina coleira meio solta ao redor do pescoço, sentava-se com as patas dianteiras esticadas e o grosso rabo a rodear-lhe as traseiras. Talvez a ponta do rabo pendesse do outro lado do muro. Com o pescoço espichado, acompanhava, imperturbável, os ensaios e as tentativas de evasão do roedor. Estavam a cerca de dois metros um do outro e o felino sugeria a certeza de ser apenas uma questão de tempo ter aquele inimigo a seu dispor para as diversões habituais de um gato a torturar uma presa.

O esquilo, sempre acompanhado de agudos guinchos, ora subia, ora descia pelo galho, depois pulava para outro em busca de uma rota de fuga, voltava ao primeiro, de cabeça para baixo, atento ao felino, imóvel sobre o muro. Naquele momento, uma inesperada 'chuva' de grossos pingos surgiu de baixo para cima, da esquerda para a direita e obrigou o gato ou gata a um pulo para a rua, quase três metros abaixo. Alguém jogara a água para espantar o animal. Sentado com antes, agora no chão de terra da rua, o felino manteve seus olhos sobre a eventual presa e o roedor continuou com suas manobras para tentar escapar.

Voltei para dentro de casa sem saber o final da história. Observara a dupla por uns vinte minutos e eles continuavam lá como cena de desenho animado.

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