desenho em DOS com IBM - StoryBoard - 1991crônica do dia

Onírica

03/06/08

Em um canto acanhado da sala, uma grande lâmina de vidro espesso - como saber a espessura de um vidro em seu caixilho? - descia do teto ao chão e fazia o canteiro, do lado de fora, parecer parte do ambiente.

Já ia sair dali quando um grande pássaro negro chegou, enorme, de asas abertas, imóveis e com algumas penas brancas para o desenhar. Descia suavemente, como um helicóptero sem hélice e tendo, sobre seu dorso, a altura da raiz da cauda, mais ou menos, um pouco deslocada para a direita, outra ave, bem menor, marrom, também de asas abertas como se ambas planassem, soberanas em outras altitudes. Na pequena, cor de rolinha, também se viam riscos brancos aqui e ali.

Imediatamente chamei pela companheira, ali comigo, para mostrar a beleza e o inusitado da aparição, enquanto as aves continuavam a baixar muito devagar, sem piscar ou mover um músculo sequer. As duas imóveis, como objeto sólido, na desproporção grande de seu tamanhos - uma grande como um urubu e outra talvez menor do que um pardal.

Tudo durou um instante. Quando minha companheira chegou, acordei. Trouxe do mundo dos sonhos este enigma, dos dois pássaros-helicóptero, silenciosos e rijos, de asas estendidas e num conjunto assimétrico. Dois pássaros sobre o canteiro, do lado de lá do grosso vidro que vedava nosso canto acanhado.

Foi suave ir do sonho à realidade e trazer esta lembrança à guisa de desafio a nossa "fúria de compreender", como a chamou Buñuel, ao falar do Acaso e do Mistério, ele, que também observou que "tudo, absolutamente tudo, foi imaginado por tal ou qual cérebro e esquecido."

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