Orozimbo Arabelo dedicava-se com afinco aos árduos afazeres de perpetuação da espécie. Há muito desistira de toda pretensão ética ou comportamento política, social ou religiosamente correto. Isso é coisa de formiga, abelha e cupim, dizia, que há milênios se repetem na mesmíssima toca.
Não, eu, Orozimbo Arabelo, condenado à morte ao nascer; descrente de céus, reencarnações, deusas e deuses; sem sequer Satanás a me ofertar Margaridas generosas, vou à luta pela sobrevivência, pois Charles, o que deu umas bandas pelas bandas de cá no décimo nono século, provou que, a negar a de futebol, a seleção natural dá a origem às espécies, quando preserva raças na luta implacável pela vida. Quer dizer, o próprio Darwin opina que se deve ir à luta, A mãe Natureza aconselha: filho, vá se virar.
Assim, Orozimbo buscou um plano vencedor, na terrível, brutal e desafiadora guerra pela sobrevivência e se lembrou das sapientíssimas palavras do careca e barbudo Charles: vencerão os mais aptos!
Aprendeu que sobrevivência, para o doutor, era a da espécie e, já que, como todo ser vivo nasceu com sentença capital, malgrado a omissão da data de execução, concluiu que, importante mesmo era garantir a perpetuação dos Orozimbos Arabelos e, para tanto, duas providências se faziam prioritárias e urgentes: continuar vivo, em primeiro lugar e providenciar o maior número possível de Orozimbinhos o quanto antes... e sempre.
Assim, com a certeza de não ser abelha, formiga nem cupim, e diante da incapacidade de qualquer sentimento coletivo e tudo mais que se contou, Orozimbo Arabelo, escolheu a porta que lhe pareceu mais certeira e direta para o poder e para poder se dedicar com afinco aos árduos afazeres de perpetuação da espécie, embate que requer, como se sabe, imensa soma de numerário: Orozimbo Arabelo sai candidato nas próximas eleições.
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