Foto de 10 de maio de 2009

Papel de alumínio

07/11/16

continuação

Atravessei a larga praça sob sol inclemente e sentei-me meio perdido a uma das pequenas mesas de um café. Pedi café e água com gás, enquanto se atropelavam em mim imagens desconexas. Apenas o sentar-me ali em plena tarde evocava inexoravelmente duas personagens.

A primeira, Luis Buñuel, frequentador, nas tardes parisienses do início do século passado, de cafés e bares para ali praticar seus devaneios regados a dry martinis e Fernando Pessoa, igualmente, habitué de cafés lisboetas, onde acompanhava o bebericar com muita poesia e fina filosofia.

"Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, / Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida." A tecnologia inova todos os dias, mas nós permanecemos os mesmos há milênios e, embora o papel prateado seja hoje de alumínio em vez de estanho, continuamos a deitar tudo por terra com nosso jeito de pensar.

um ano!

Ah, a verdade da pequena a comer chocolates! E, em meio a tais evocações, avultam-se indagações sobre os limiares entre o real e o imaginário, contrapõem-se os universos das ideias e o dos fatos.

Um pombo se aventura entre as mesas. Obtém assim as proverbiais migalhas dos lautos banquetes. Parece jovem e algumas de suas penas têm um brilho irisado. Aparentemente, não filosofa, atém-se a busca de alimento e, quando há ocasião, procriar.

Belisco o café, está quente demais para meu gosto. Imagino Serena porta adentro, irrompendo da intensa luz exterior para mergulhar na penumbra enfumaçada do pequeno café: já não é mais metade peixe, caminha com os próprios pés. Serena, uma serena mulher...

– Sim, senhor - diz o garçom, pois o chamara com um gesto. A realidade era a água, o café, o garçom e o chocolate a pedir, para saber se não há mesmo "mais metafísica no mundo senão chocolates".

Logo estaria às voltas com o papel de alumínio.

Quiçá continuará...

Mon, 7 Nov 2016 12:53:29 -0200

Preciosos poéticos devaneios que nos levam à tarde ensolarada carioca, a Lisboa, a Paris.
Obrigada pela beleza, ou devo dizer "merci?"
Lindo. Mas cadê o chocolate? Você que tá comendou ou uma pequena menina? Ontem fiz a alegria da família com alguns quadradinhos de chocolate que eu tinha em casa, alguns deles embrulhados em papel branco encerado e não, de alumínio. A propósito do "de": volta e meia, ao pedir compras do mercado, sou corrigida ao dizer "papel de alumínio" pelo atendente que anota compras: "papel alumínio"?, diz ele; idem se me atrevo a dizer "toalha de papel": "papel toalha?", inflexiona em tom de sabedoria.
E preciso procurar aqui e ler a bendita crônica da Serena, da qual li um pedacinho e me lembrei logo da música do Gil, você conhece, né?

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Como dizia uma amiga, citando "o esquartejador", vamos por partes:

Que bom que você gostou! Sinto-me tão inseguro no pântano da ficção...

Existem chocolates diet (sem açúcar) e volta e meia compro uns pequeninos, com rótulo de 70% cacau. Sua folhinha de papel de alumínio é finíssima, até difícil de desembrulhar.

Quanto ao "de", segui recomendação do Houaiss:
papel-alumínio

· substantivo masculino
ver papel de alumínio

A serena sereia está aqui, mas na verdade sua saga começa aqui

Por fim, não, não conheço a música do Gil, mas a posso achar por aqui.


Tue, 8 Nov 2016 19:28:24 -0800 (PST)

a Serena agora anda?
como foi q aconteceu isso?

      sem assinatura

Nos sonhos a coisa acontecem sem explicações.


Thu, 10 Nov 2016 18:01:30 -0200

... uma graça essa história de você flanado pela sua praia carioca...
quero mais e mais e mais...

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A ver... será que os outros também estão a gostar?

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