no Shopping da Granja

de esporadicidade imprevisível

Partido ao Meio

01/04/16

Acabou março como, há 52 anos, em 1964, o mês findou e o inferno se instalou temeroso de ficar para a História como a quartelada de primeiro de abril, mas lançou o país em negro e contínuo período de prepotência e flagelo. Os jovens não podem imaginar o horror da ditadura militar. Na época, não só seria impossível enunciar o conteúdo da primeira frase, como sua simples ocorrência em pensamento me faria suar frio e temer, de alguma forma, poderem os algozes a ler em meu cérebro.

Não acredito em poderes sobrenaturais, em antevisão do futuro nem outras profecias, mas lembro bem de uma cena da época, quando frequentava o estúdio/laboratório de um colega, Roberto Maia. Ali, abatidos como todos sob as botas militares, nos sentamos - Roberto, seu irmão, Rubens, eu e mais um, cujo nome não lembro - nos sentamos no chão a discutir o futuro após o golpe. Cada um arriscou um palpite sobre a duração da tormenta ainda impossível de imaginar, com números entre dois e quatro anos. Não sei por que, falei por último e arrisquei: vinte anos.

Foram vinte e um, salvo engano e quase acertei por mero acaso. Anos antes, brinquei em um dos jornaizinhos que tinha mania de fazer: "vote no PAM - Partido ao Meio", como troça às campanhas de partidos políticos da ocasião. Hoje, não discuto vantagens ou defeitos de um ou outro partido, almejo o inteiro. Parece brincadeira de primeiro de abril, mas escolher um partido principia o antagonismo. A lucidez não permite disputas - a verdade transparece e diante dos fatos inexistem opiniões.

Dividir o planeta em países, partir cada país em estados, cada estado em cidades, estas em bairros e assim por diante pode dar belos filmes sobre brigas de gangues ou tiroteios entre favelas rivais etc., mas não contribui para uma sociedade melhor. Partidos, melhor não tomar.

Fri, 1 Apr 2016 11:26:25 -0300

boa lembrança
PAM

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O PAM foi seis anos antes do golpe, eu tinha quatorze anos.


Fri, 1 Apr 2016 21:45:39 -0300

Muito boa essa decisão de não tomar partido.

      sem assinatura

Gosto de ouvir isto, principalmente vindo de você.


Sat, 2 Apr 2016 13:20:25 -0300

Mais uma vez, de acordo. O difícil é imaginar para onde se voltar nessa confusão.
Bom fim de semana!
Bjs
Ana

Bom fim de semana também!
Você sabe melhor que eu a resposta: volte-se para si mesmo, né, se conhecer é tão difícil!


Sat, 02 Apr 2016 17:31:51 -0700 (PDT)

muito bem escrito, sim senhor, o uso e abuso da palavra partido

      sem assinatura

Não! A nossa mania de tomar partido!


Tue, 5 Apr 2016 17:54:51 -0300

Fala fala, Mermão...
Sabe que nada me ficou (agora, por exemplo)
daquele tempo de proibições e sustos, e medos...
Mas pra mim tudo isso sumiu faz muuuuuito tempo.
Quando alguem, por acaso, volta ao tema...
sinceramente não em toca.
O dia é hoje, o que acontece agora.
Será um desvio meu?
Mas... já foi, já era, passou... faz tempo.

bjo

      sem assinatura

Se for, que bom, que desvio proveitoso.
Você está certo, o dia (a noite, agora) é hoje.

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