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berro - a parte inútil da vaca
Publicação esporádica destinada a perder-se como berro de vaca que, todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

Cecilia Payne

15/01/02

Passados milhares de anos as palavras de Salomão ainda ecoam: "... tudo é vaidade. Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol?"

Malgrado a pira da imolação de egos, são os frutos das as vaidades que nos alimentam e nos calçam os pés e nos agasalham do frio e cobrem com outras folhas as vergonhas com que o Criador nos assinalou para que se cumprissem seus desígnios de crescimento e multiplicação. Tudo é vaidade e é também fugaz, efêmero. Depois, é silêncio e esquecimento.

Apostaria, alimento de meu ego e vaidade, que você nunca ouviu falar de Cecilia Helena. Claro, não se trata de personagem da novela da seis, não. Cecilia Helena Payne, depois, Payne-Gaposchkin. Aposto que você, amável leitora, mesmo que seja feminista, ainda que norte-americana ou inglesa e até mesmo se for cientista, não sabe de quem se trata. Quer apostar?

Para encurtar a história: Cecilia Payne era mulher. Mulher e cientista, astrônoma. Aos 23 anos, ainda estudante, fez descobertas importantes para a Física e a Astronomia. Disse logo mulher porque isso resume um universo: "culta, filóloga, cientista arguta, mãe calorosa, vizinha generosa, viajante esclarecida, freqüentadora de teatro, música, de certo modo uma ativista política, com uma inteligência sagaz e uma rainha inspirada da cozinha e das agulhas."

Cecilia Payne nasceu com o século e morreu aos 79 anos. Estudou em Cambridge e Harvard, onde também ensinou e trabalhou por toda a vida. Conviveu com os maiores da ciência de sua época: Bohr, Boltzmann, Eddington, Einstein, Hubble, Planck, Rutherford. Só foi reconhecida depois de morrer, por ser mulher.

O feito da jovem estudante teve um toque feminino: intuição. Cecilia concluiu que a matéria-prima do universo é o hidrogênio. Os homens de ciência viram algo errado nos cálculos da donzela. Depois da guerra, com uma nova física e novos instrumentos, todas as suas previsões se confirmaram.

Mulher, sempre se viu preterida em uma universidade machista, como conta: ""mal remunerada, com excesso de trabalho e status formal negado". A primeira promoção só veio aos 38 anos e precisou esperar até 1956 para ser a primeira professora onde, pouco antes, um empedernido presidente dizia com orgulho que "nenhuma mulher receberá qualquer nomeação da Harvard Corporation".

Não vi foto de Cecilia Helena que, na década de trinta, se casou com um astrônomo russo. Seria bonita?

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