Eram 17 horas e foi preciso acender as luzes. A espessa camada de nuvens de onde caía uma chuva fina escurecera precocemente a cidade obrigando inclusive as fotocélulas a acenderam as luzes públicas. O excesso de umidade acentuava a sensação de frio aquém dos 21 Celsius indicados pelos termômetros.

Tenho comprovado a notável variação de meu humor conforme varia a umidade relativa do ar. Às vezes me pergunto se tal sensibilidade é herdada de povos do deserto. Gosto de clima seco, bem seco, abaixo das recomendações da OMS. Mais um pouco e poderia tornar-me um higrômetro de precisão.

Quando cai a tarde, vem do oceano muita água pelo ar fazendo o princípio da noite torna-se abominável. Nesta época do ano é momento de se agasalhar. Mais tarde, mesmo na madrugada, o incômodo diminui e, em geral, tiro as roupas acrescentadas no entardecer.

Faltam 14 dias para o solstício de junho. A luz solar já incide praticamente perpendicular sobre o Trópico de Câncer. Aqui, 47 graus ao sul daquele paralelo, o Sol se eleva pouco a cada dia e seu ápice mal atinge 45 graus. Pouco atentamos a nossa dependência da estrela, de nosso Sol, origem de tudo e quiçá da vida.

Ao percorrer este trecho da órbita, onde o polo sul aponta para o espaço exterior, o grosso da energia solar se concentra no hemisfério norte e aqui, Trópico de Capricórnio, se escancara a carência das radiações de nossa estrela.

Estas condições me lembram o pinguim imperador, habitante dos frios mais frios do planeta, onde, por dois ou mais meses, o sol sequer aparece acima do horizonte. E eles sobrevivem e chocam os ovos de suas fêmeas, que eclodem na primavera, quando elas voltam do mar, bem alimentadas e prontas a se encarregar, então, dos piguinzinhos.

A vida é absolutamente maravilhosa e, como assinalou o poeta, bonita, bonita, bonita.

Thu, 7 Jun 2018 17:52:45 -0300

Querido Clode

Sempre me faz bem ler suas crônicas. E esta, em especial, me fez recordar que apesar de tudo, a vida é bonita, é bonita e é bonita!

Beijos de sua sempre fã e aluna

Vera

Oi, Vera.

Que bom que você gosta.

Apesar de nós, seres humanos, a vida é linda e fascinante, sim. Não me canso de a admirar.

Obrigado por suas palavras.

Sat, 9 Jun 2018 09:30:38 -0300

Somos dois, amigo. Também não gosto do frio. Pra começo de conversa, detesto ter que
usar roupas pesadas - que tantas mulheres acham muito mais chiques do que as de verão...

Quanto ao sol e à vida, acho que com certeza o sol contribuiu para o milagre inicial e a evolução cuidou
de criar toda a sua diversidade - de pinguins a camelos... Que vai ser dela no futuro?

É, a vida é surpreendente e maravilhosa... Mas...
Você viu uma notícia recente sobre evidências de que já tenha havido vida em Marte em algum momento da
história do universo? Juntando com as hipóteses sobre existência de vida inteligente e civilizações
avançadas pelo universo afora, não é difícil especular: será que teria sido uma civilização avançada que levou à
extinção da vida em Marte - e quem sabe em outros lugares? Era o que pensava aos 16, 17 aos, quando a
Guerra Fria (somada a alguns livros catastróficos) me levou a pensar que não ia querer ter filhos (está no meu
diário de adolescente)...

Bjs
Ana

Oi, Ana.

Sim, vi o noticiário sobre a provável existência de vida em Marte num passado não sabido.
O universo é grande demais e a velocidade da luz lenta demais em face da efemeridade de uma vida (incluindo-se a das sequoias!) Isto possibilita todo tipo de especulação, inclusive a possibilidade de civilizações avançadas e destruições inter-galáticas.

A Guerra Fria nos amedrontou a todos. Além dos livros catastróficos havia filmes a acenar com a ameaça do fim, entre os quais marcou-me particularmente o "Dr. Strangelove", no Brasil, "Dr. Fantástico", com Peter Sellers em três ou quatro diferentes papéis. Mais tarde acenavam com mísseis balísticos inter-conteinentais e ogivas múltiplas para multiplicar e estender o extermínio.

Ainda bem que tivemos nossos filhos, face nossa ignorância sobre a vida e seus mistérios.