auto-retrato 

Poder

08/09/10

O poder da força bruta já superou ouro e fé. O cavaleiro se meteu em ferros e elmos, brandiu lanças e tacapes e socou pólvora em canos de todos os calibres. Inventou o cinto de castidade e trancas e cadeados e o ferro e o aço pareceram, então, tudo poder.

Vieram depois os tempos do ouro e Midas comprava consciências e exércitos e as cocacolas e relógios suíços puseram o poder em outros bancos e bolsos e, livre dos cintos, a castidade pouco se alterou. As moedas tilintantes e notas promissórias pareceram, então, tudo poder.

Vieram, por fim, os tempos de fé implantada com os requintes de sofisticadas tecnologias, capazes de nos tornar devotos de uma marca qualquer, de uma idéia ou ideal, da bandeira de um país ou clube de futebol. E os meios de comunicação e técnicas de convencimento parecem, agora, tudo poder.

Voltamos, talvez, aos começos primeiros, de crença em senhores do fogo, nos Zeus e deuses de raios e trovoadas, em mensagens ocultas nas fumaças de aras e altares, quando, então, se tentava convencer da veracidade de um deus, da pureza do ouro de um bezerro para conquistar, assim, poder sobre os fiéis.

Vale do Paraíba - foto do autor - 1974
Vale do Paraíba - foto do autor - 1974

Hoje, subjugam-se fiéis à crença no valor de uma pílula, no sabor de uma bebida, no perigo ou vantagem de determinada atitude, na felicidade embutida em cada item de consumo, como se diz, a nos reduzir a consumidores apenas, de credos erigidos com sutis e poderosos instrumentos de convencimento, de condicionamento.

Nesta arena, ao delator se ergueu estátua em praça pública, pois informação é poder, mesmo efêmero ou fictício. Nela, a fofoca, o mexerico, a intriga, a bisbilhotice, a delação, todo esse disse me disse ganhou vulto e importância, ainda que se finja o desprezar.

O lema de nosso tempo se afigura: conquistar a crença, para subjugar ou conquistar mentes, para ter o corpo como bonificação. De cada lado, de toda parte, uma voz prega sua verdade, seu interesse.

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