auto-retrato [] Crônica do dia

Precipitação

16/07/12

Segunda-feira de frio e chuvisco, ou garoa para fazer jus ao epíteto paulistano - seria paulista? O meio-dia de hoje assinala a metade do mês de julho. Dia de retomada da rotina num mês de férias, para muitos. A umidade parece desconfortável para muitos além das pessoas : um grande gato feioso, de olhos pequenos e pelo uniforme e rajado, macho que esguicha seu cheiro por aqui mas, arredio, nunca atende aos chamados, dorme enroscado sobre um banco de taboa, na varanda.

A chuva aperta, não é mais simples chuvisco. Os pingos se fazem ouvir e, do beiral do telhado, escorrem fios líquidos sobre as folhas plissadas já descritas aqui. O gato, deitado sobre o outro lado, levanta a cabeça e olha ao redor. Provavelmente, o barulho da chuva o despertou. Olha e volta a se enrodilhar, deitando a cabeça com a boca quase para cima. Dormirá mais um pouco, talvez embalado por sonhos felinos.

Ao longe, ecoa o som do caminhão de gás. Há muitos anos, a prefeitura proibiu, em São Paulo, o buzinaço dos distribuidores de gás e um deles contratou músicos para compor a toada que repetem hoje em dia. Até a 'Pour Elise' irrita quando repetida insistentemente a troco de nada. O caminhão segue sua ronda pelo bairro - bairro! Há trinta e cinco anos o único vizinho estava no outro quarteirão e o seguinte a meio quilômetro, mais ou menos - tornando sua melodia, feita a partir do som do choque inevitável dos botijões, explicou-se na época, mais incômoda pela repetição.

A chuva diminui e os fios d'água do beiral se tornam uma sucessão de pingos e um batucar em ritmo descoordenado sobre as folhas sem nome, aquelas com dobras sucessivas paralelas e permanentes, como as das saias de cor vinho das moças da, então, Escola Normal, na Tijuca. Mais um pouco e também esses pingos calam seu tamborilar.

 

Mon, Jul 16, 2012 1:15 pm

Sou daquelas que gosta (também) de dias frios, chuvosos - a luz cinzenta, verdes profundos, barulhos.....
Pra tudo: uma delícia encaramujar e tb adoro sair de bota e guarda-chuva, caminhar até dar calor...
Gosto das variações climáticas.
beijo!
Aida

Parabéns!
Deveríamos encarar todos os desafios assim, de peito aberto, sem preconceitos!
É admirável sua maneira de encarar as intempéries. Tomara consiga ter a mesma disposição ante todos os desafios da vida.


Mon, Jul 16, 2012 5:18 pm

ADOOOOOOOOOOROOOO!!!!! ler vc é teletransporte!!! estive aí hoje vendo as folhas saias, o gato deitado, ouvi até a sua chuva.
só não entendi isso: "tornando sua melodia, feita a partir do som do choque inevitável dos botijões, explicou-se na época, mais incômoda pela repetição."

Lembro-me de quando a Erundina proibiu os caminhões de gás de chamarem os fregueses na base da buzina e, então, a Ultragás contratou, um grupo musical popular e famoso na época para compôr uma música para substituir a buzina. É esta mesma que continuam a usar e, na ocasião, os músicos contaram terem-se inspirado no barulho que os botijões faziam, no caminhão, batendo-se uns nos outros.
Resumi demais. Tornou-se ininteligível.

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