fotografia de 14 de março de 2017

Preguiça de pensar

12/05/17

Abro a janela. De norte a sul, de leste a oeste, o céu se estende azul, isento de nuvens, malgrado um véu diáfano esmaeça a intensidade da cor azul dos dias mais secos.

Ligo o rádio. Anuncia-se a previsão do tempo. Uma voz feminina diz estar nublado o dia para, em seguida, anunciar "chuva durante o período". Imagino a repórter meteorológica metida em uma sala sem janelas, defronte a inúmeras telas cheias de informações...

Ultrapassado o meio do dia, as condições permanecem: céu azul sem nuvens e ausência quase completa de ventos. Assim caminha nossa sociedade: valorizamos estatísticas mais que nossos sentidos, acreditamos nos computadores mais do que em nossos próprios olhos, ouvidos e tato. Delegamos à tecnologia tarefas antes comuns de cérebros humanos.

Lentamente (ou nem tanto) se altera o mundo ao redor. Aos poucos, surge uma nova realidade e, ao mesmo tempo, se diluem antigos marcos psicológicos e sociais. Testemunhamos a transformação do conhecido em algo ainda nebuloso, difícil de nomear e até de compreender

Primeiro valorizamos a palavra acima dos fatos, do que é. (Veja-se "A Palavra Pintada", de Tom Wolfe, autor também de "Fogueira das Vaidades", apontando a importância crescente, durante o século vinte, do discurso sobre a obra de arte em detrimento da própria obra.) Agora, entregamos progressivamente aos computadores a tarefa de pensar.

O novo cientista, o novo filósofo, o novo pensador, os novos oráculos são, cada vez mais, algum programa em algum computador e preferimos as informação na tela sobre o clima chuvoso a escancarar as janelas para sentir na própria pele o calor do Sol e ter a visão ofuscada por seu intenso brilho, mesmo quando sua luz nos chega muito enviesada nesta época, nesta estação.

Depois de "A Palavra Pintada" afloram os tempos d'"A Realidade Computada".

Fri, 12 May 2017 21:52:40 -0300

Ficamos obsoletos...

https://futureoflife.org/background/benefits-risks-of-artificial-intelligence/

Abraços

Ebert

Vamos curtir nossas velhices da melhor maneira que pudermos.
Sempre será possível acontecer aquilo que ninguém previu...
O futuro, por enquanto, é mera suposição (qualquer que ela seja).
Obrigado.

Abraços


Fri, 12 May 2017 23:05:12 -0300

muito boa! outro dia li que, nos tempos em que se decorava na escola (tabuadas, verbos, por exemplo), perdia-se menos a memória, pois agora temos tudo na ponta do dedo (no teclado) diante dos olhos (na tela). Quando apareceram as pequenas calculadoras, dizia-se pra não deixar de fazer contas sem elas ou desaprenderíamos. Agora desaprendemos totalmente de pensar!

      sem assinatura

Obrigado. Não há dúvida que a velha "decoreba" era um exercício para a memória.

Na última visita de meu sobrinho, ele parou num botequim aqui perto para comprar um pacote de cigarros. O dono remexeu uns armários em cima de uma escada e não achou o tal pacote. Então, falou ter maços soltos, fora do pacote. OK, disse nosso sobrinho, não importa. O cara, então, pegou dez maços e os embrulhou e pegou uma calculadora, colocou o preço de um maço e multiplicou por dez para cobrar...

Enquanto isso, muitos cérebros se dedicam ao desenvolvimento de inteligências artificiais (AI na sigla em inglês) e os progressos se acumulam...


Sat, 13 May 2017 09:51:28 -0300

Oi, Clôde

Obrigada pela dica do Tom Wolfe - fiquei curiosa . Encontrei na Livraria Cultura por 25 reais, e já encomendei; achei até uma oferta por 12 reais,
mas não estava mais disponível...

Bjs
Ana

Bom dia, Ana.

Eu tinha o livrinho, desde quando foi lançado no Brasil e o li na época. A imagem pintada pelo autor no final, de uma "futura" exposição de pintura... não vou contar, você verá, ficou marcada em minha lembrança. Tomara que goste.


Date: Sat, 13 May 2017 19:21:59 -0300

                                               Perfeito!!

                                               Bj

      sem assinatura

Obrigado.


Sun, 14 May 2017 11:03:01 -0700 (PDT)

Bonita foto, meu charmoso irmao.
Bela cronica
Bjs Saudades
Maren

A foto é a mais recente de todas que ilustram as crônicas.
Obrigado.

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