foto de Mimacrônica do dia

Prelúdio

23/01/08

Madrugada fria e enluarada - ao se desvencilhar de véus de nuvens superpostos, a lua cheia confirmou que o sol ainda luzia, apesar dos dias seguidos de saturação de umidade e chuvas generosas. Sua luz, azulada aos nossos olhos, vacilou entre véus que se estendiam e passavam com rapidez e, a medida que a manhã se aproximava, se desmanchavam para deixar, na alvorada, um céu azul e puro.

Ainda cedo, infiltrando-se pela folhagem, o deus dos incas recortou nacos da natureza com o esmero dos velhos fotógrafos de Hollywood. Dir-se-ia que dava vontade de morder os fragmentos de paisagem. Súbito, gritos agudos fizeram fundo à cena ensolarada. Um movimento brusco de ramos do abacateiro mostrou um bando de muitos sagüis. Agitaram-se mais ao ver gente. Um debruçou-se a examinar. Outros começaram a pular de galho em galho em rota de fuga. Um, pequenino, fugiu na direção oposta. Em salto espetacular jogou-se sobre a grande folha da palmeira e por ela chegou à paineira.

Entre os grupos, agora em lugares diferentes, as vozes se multiplicavam. Um casal permaneceu no abacateiro. Toda vez que a fêmea se acomodava, o macho tentava montá-la, mas ela se desvencilhava, seguia e determinava a ação. Depois de algum tempo, o macho desistiu e fez o caminho da folha da palmeira, foi se juntar aos da paineira. Lá, três assistiam a tudo com muito interesse. Dois tinham rabo fino, longo e, com ele seguravam o galho com displicência. O outro, de rabo mais grosso e mais curto, tinha o rosto muito escuro, quase preto, o que destacava sua barba branca. Ele se agachava, com a cabeça ao lado do galho em que estava, como se quisesse ver melhor o que acontecia.

Como disse Cartola, "finda a tempestade o sol nascerá", as águas escorreram e hoje, apesar do vento frio, temos o céu azul e sol beleza. Temos, não, tínhamos, de repente, tudo branquejou.

|volta| |home| |índice das crônicas| |mail| |anteriorcarta777

2454489.12096.856