detalhe de foto de  1966Crônica do dia

No fim, cada mania acha seu louco.

Progressão

26/12/07

Complicar parece tão fácil! Como um monte de aranhas empenhadas em fabulosa tarefa, entrelaçamos nossas teias de valores, significados, hierarquias e delas surgem conexões, dependências, vínculos e, aí, uma coisa trivial pode virar tarefa desafiadora na progressão geométrica de entrelaçamentos.

Comprar biscoito, por exemplo. Em minha infância se pedia no balcão e logo o balconista trazia uma grande lata, quase cúbica, de onde pegava os biscoitos com uma grande pá em formato de tronco de cone. Depois, os derramava aos poucos num saco de papel pardo, em um dos pratos de uma balança que tinha, no outro prato, um peso de metal esculpido como um cilindro.

É claro que antes desta operação, quase sempre, o balconista nos oferecia - éramos todos conhecidos! - um biscoito, equilibrado com perícia, por um movimento de sua mão, na ponta da pá cônica...

imagem da internet

As baratas e ratos - fora a formigas, impossíveis de evitar - deviam cobiçar as mesmas iguarias sem as sanções da vigilância sanitária nem o Santo Graal das proteções ao consumidor. Vivia-se menos, talvez, mas parecia mais gostoso viver. Mais simples - a menor distância entre dois pontos era reta, sem geometrias não euclidianas.

Pelo rádio a moça recomenda: antes de comprar qualquer mercadoria, ligue para o procon ou procure "em nosso site" se há muitas reclamações contra a empresa que fornece "o serviço ou produto". Como é fácil complicar!

Não bastasse a necessidade de uma lupa no supermercado para decodificar o que meteram ou não em dado biscoito, de ter de verificar datas e outros atributos, a que se atribuem vantagens ou malefícios para a saúde etc., será preciso telefonar para uma dúzia de lugares para poder provar aquele biscoito que bancava equilibrista na ponta do tronco de cone oblíquo, de lata, na mão do balconista do armazém.

Talvez o problema seja da Geometria!

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