autorretrato [] Crônica do dia

Quase 2015

31/12/14

A coluna de álcool e corante vermelho sobe no finíssimo tubo oco de vidro! Galileu, em outra latitude, vislumbrou a possibilidade de medir calor e frio pela altura de uma coluna de líquido.

Expor-nos assim a tanta energia, voltar-nos explicitamente às emanações do sol a incidir perpendicular, reduzindo a zero a sombra de uma vertical, provoca transtornos e catástrofes pelo excesso de energia sempre a se transformar.

Assinala-se o final do ano, término de uma contagem, a volta do planeta a posição inicial em relação a sua órbita, mas o sistema inteiro - o sol e seus 'satélites' - também se deslocam em velocidade vertiginosa. O universo desafia a nossa compreensão. As pessoas se agitam, as vozes se elevam. Comemora-se a oportunidade de comemorar. Aqui haverá festa e muitos fogos de artifício, mas já se ouve um ribombar ininteligível de sons graves há dias. Grandes e poderosos amplificadores sonoros e um sem número de reflexões e misturas transforma tudo em perturbador retumbar, quase físico.

Uma trovoada extemporânea mistura-se ao estrondo de fundo. Nuvens cortam o azul lentamente, de noroeste a sudeste. Novas trovoadas, ou seriam já os fogos previstos para daqui a algumas horas? Os pássaros ignoram as humanas lides e sobrevivem longe das matas e riachos refrescantes. Caem pequeninas gotas, raras demais para se dizer chuviscar.

Na pequena área usada como quintal, duas moças se expõem aos céus, pois o sol sumiu detrás das nuvens. Um gato preto e branco lhes faz companhia. As gotículas se multiplicam e elas abrem um imenso guarda-sol para fazer as vezes de guarda-chuva e proteger mesa e cadeiras. Somem. O som irritante some também.

Quando o dia clarear dir-se-á primeiro dia de 2015. A meia-noite anterior assinalará a morte de um ano e o nascimento de outro, em cada lugar, a cada meia-noite.

Wed, 31 Dec 2014 17:44:56 -0200

Mermão...

Você, como desde o início, escreve lindamente.

E quando o assunto pede se olhe para cima, pra muito alto e além...
ai sua fala brilha mais ainda, contrariando a aparência de que tudo
não se move...

mermão sempre olha pro alto...

bjos na virada do ano.

uma vez, trabalhando Rio sobre uma virada de um outro ano...
fui pra redação depois de gravar uma série de cenas,
comecei assim:

amanhece janeiro no rio...

o chefe fez um exagero de elogios por causa dessa
frasezinha de nada...
afinal, é sempre assim, ai no Rio: amanhece janeiro no rio.

vai acontecer de novo daqui a pouco...

bjos mermão

Acontece ser a sua "frasezinha de nada" belíssima! Tanto que emprestaria a esta última palavra um sotaque italiano, como nos filmes de Fellini: belíssima! Como soem ser belas as frases de meu irmão.

Nada muda, é claro, amanhã é um dias como os outros e os Homens seguirão desnorteados como antes.

Um belíssimo 2015 para vocês!


Wed, 31 Dec 2014 19:09:03 -0200

Clode querido, que 2015 seja um ano camarada .bj grande

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Obrigado. Que o seja para todos, esse ano quase aí!


Thu, 1 Jan 2015 07:48:06 -0200

Sempre um prazer as suas reflexões sobre as efemérides. Um longo abraço para abrir 2015!

Ebert

Obrigado, amigo de longa data, outro para você.


Thu, 01 Jan 2015 08:56:54 -0200

Que lindo,Clode!
Feliz Ano Novo pra voce tambem.
Saudades!

      sem assinatura

Obrigado. Logo devo ir aí. Até.


Mon, 12 Jan 2015 00:26:46 -0200

Li de novo (tinha lido no celular do Renato, lembra?), gostei de novo, gostei mais ainda.
Lá no Muquém, vimos a lua nascer 2 noites. Na terceira, quando olhei pro céu, já ia a uns 10 minutos do nascimento. Só eu a vi, Renatoe e Maria já estavam dormindo. Impressionante como clareia a noite escura, fica tudo claro e evidente.

      sem assinatura

Não, não lembro... Que bom que você gostou.
Aqui não a vejo nascer, em termos de horizonte, em casa ela sai de trás dos prédios. Sim, a cada noite ela volta mais ou menos uma hora mais tarde. Lamentavelmente, não temos escuro por aqui. As luzes da cidade suplantam o luar.

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