Crônica do dia
Publicação esporádica, a perder-se como berro de vaca, que todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

 

Roupas

14/03/05

Um livro delicioso, do qual falo com o máximo de suspeição por envolvimento com os autores - emocional e familiar -, conta a história e trajetória de pano que reveste, esconde e descobre o corpo da mulher brasileira e faz e fez festas e vestes de cortes de quintais e festivais, São Joãos e Bumbas brasis.

Em "Que chita bacana" vi que muita coisa vem de longe, pois foi com os ingleses que "aprendemos a vestir roupas sóbrias e pesadas que nada tem a ver com nosso clima. Essa era a vestimenta elegante, das pessoas de bem". e que era, o "algodão cru ou estampado - a chita -, a roupa do povo."

Outro dia assisti, por pura sorte, cena que se registra aqui, sem câmera escondida, sem sistema de segurança ou gravação. Contrariando slogan famoso: essa, não está na fita.

Zumbem carros reluzentes ao redor do restaurante. Um sujeito forte fala para outro: não era preciso ter deixado o pisca ligado. De fato, bem na esquina, no cocuruto da curva, há um carro, preto, esguio, com luzes amarelas conspícuas a piscar. Chegam mais carros e fregueses, é a hora da fome.

Adiante, na frente da casa com gradil de ferro-batido encimado por lanças prateadas, o segurança, está firme em seu posto, todo de preto apesar do calor. Ao lado, uma moça, de uniforme preto e branco, com avental e detalhes que não sei e meias três-quartos, brancas, como as de colégio de freiras e cabelos curtos, arrepiados, quase vermelhos, conversa com um rapaz alto.

Aí, sai da casa uma senhora, com um uniforme igual, os dois braços levantados sobre a cabeça, para erguer três vestidos "de festa", pretos e cheios de bordados, plissados, brocados e coisas assim. Um era, de fato, muito comprido e se arrastaria pelo chão sem a incômoda posição.

Passou e seguiu rua abaixo, qual dama "elegante, pessoa de bem", a se dizer metida em três longos de gala e três-quartos de meia...

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