autor durante aula na Editora Abril [1968] crônica do dia - gemido esporádico, sobra do que um dia se imaginou berro

 

Sem papas na língua

18/05/07

Papas há, a dar com o pau. A de maisena, as de potinho, o papa-defuntos, o papa-goiabas, o papa-léguas, o papa-hóstias, o papa-moscas, sem esquecer o papagaio, a papaverina e primo Itamar, papador exímio pela lábia e paparico.

Hoje em dia, todavia, o Papão não é mais aquele, que meteu medo à criançada e, bicho, não calo mais não meu espanto com o novo papão. Imaginem, ouvi, ontem um Ministro do Supremo - no imaginário, quase um anjo das cortes mais próximas ao todo-poderoso planaltino auriverde - o tal ministro falar, na televisão, que é preciso estar sempre atento pois a cada instante,surge aqui e acolá uma tentativa sub-reptícia de novamente impor a censura.

As angelicais palavras logo operaram milagre e, diante de meus olhos resplandeceu a revelação: a censura me emudecia sobre o papão, o... arre! Bento de vocês! Portanto, se sois carolas como minha avozinha, que importava água-benta de Aparecida e tinha um pavio sempre aceso em seu quarto, pare - pare agora! - como gritou alguém, em letra de música, do fundo da igreja.

arre! Bento de vocês! [da internet]
Certa feita, no nordeste,
manonovo deu cinco reais a
um menino. A criança começou
a chorar, parou a charrete
que conduzia e explicou:
jamais vira aquela nota.
Queria mostrá-la a sua mãe.

"Confissão de Antônio de Aguiar, cristão-velho, solteiro, na graça, em 5 de fevereiro de 1592: disse ser cristão-velho, natural desta Bahia, filho de etc., morador com eles em Matoim deste recôncavo, de idade de vinte anos, solteiro. E confessando, disse que haverá seis anos pouco mais ou menos que, sendo ele de idade de treze ou catorze anos, e sendo seu irmão mais moço de idade de doze ou treze anos, dormiam ambos juntamente em uma cama, um mameluco forro..." Segue a bisbilhotice por muitas páginas de mexericos, do visitador da Inquisição do 'Santo Ofício', português, na colônia.

trecho das páginas 316 e 317 do livro "Confissões da Bahia", Santo Ofício da Inquisição de Lisboa reorganizado por Ronaldo
Vainfas e editado pela Companhia das Letras, em 1997. No início do século XX, Capistrano de Abreu o editou pela primeira vez.

Alheio às peripécias do mameluco forro, o alemão puro-sangue o... arre! Bento de vocês!, sai lá de Ouropas Sistinas para aqui aspergir 'Santos Ofícios' e sermões, catequeses e pregações? Vade retro, arre, Bento!

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