fotografia: Mima Kubrusly

 

Sinais dos tempos

12/06/17

Gostei de ouvir rádio. Desde a adolescência cultivei uma relação quase afetiva com o aparelho por onde o mundo entrava em nossas casas.

Fisicamente, encantavam-me as válvulas dos antigos receptores, com sua luminescência alaranjada e misteriosa - por ali passavam voz, entonação e informações vindas de longe, às vezes, de muito longe. Em particular, me fascinava uma válvula especial, aquela denominada "olho mágico". Ela indicava, pela abertura do ângulo em um mostrador redondo, luminoso e verde a melhor sintonia de cada emissora.

Quanto menor o ângulo no mostrador daquele olho mágico mais precisa estaria a sintonia. A rodela luminosa e verde se destacava nos painéis dos receptores junto às diversas faixas das frequências de transmissão, olho a nos olhar dali silenciosamente...

o Olho Mágico - imagem da internet
ver no tamanho original

Daquele período, lembro bem da PRK-30, com Lauro Borges e Castro Barbosa; do "Incrível, Fantástico, Extraordinário", do Almirante, de uma novela juvenil "Jerônimo, o herói do Sertão", do frenesi das empregadas de casa com o programa "César de Alencar", aos sábados e até mesmo do noticiário da Marinha, na Hora do Brasil - eterno absurdo de nossa radiofonia, depois Voz do Brasil - a mencionar cada boia de luz e seu estado - restabelecida ou inoperante.

A Rádio Ministério de Educação e Cultura marcou por sua ginástica matinal, para a qual se comprava um mapa a pendurar na parede, com imagens dos execícios, além de um bastão e pelo programa "Quadrante", com crônicas dos melhores autores na voz de Paulo Autran, além dos concertos de Música Clássica.

Quadrante - documento obtido na internet
documento obtido na internet

Mais tarde foram outras programações a me prenderem ao receptor radiofônico, sempre excelente companhia a encher sem cerimônia os cômodos da casa.

Hoje, ligo o rádio por puro vício e percorro todo o dial, repito a busca e desligo... Gostei de ouvir rádio, não gosto mais.

Wed, 14 Jun 2017 00:45:06 -0300

mas hoje você ouviu! ;))
gostei muito e não fazia ideia de muitas coisas descritas aqui.
Papai ouvia novela e ópera domingo de manhã, me acordava e eu me irritava com o rádio.

      sem assinatura

Sim, ouvi, mas continuo a não gostar.

Ouvi um pouco de ópera, aos domingos, pela Rádio Cultura FM, de São Paulo, no meio da tarde. Não te irritaria, pelo horário, imagino. Ouvia-se novela, em minha infância, na hora do jantar... "O Direito de Nascer", cujo nome hoje me intriga: seria sobre aborto?

Há muito mais sobre rádio...


Fri, 16 Jun 2017 11:05:58 -0300

Oi, Clôde

Semana meio atrapalhada, custei pra me pôr em dia...

Na adolescência eu tinha um rádio no meu quarto - só eu (a mais velha) e meu irmão tínhamos quartos separados.
Depois perdi completamente o hábito - não lembro nem de ouvir nem de ter um rádio...
Dessa época, me lembrei, ao ler sua crônica, de ouvir e tirar a letra de I’m sorry, cantada pela Brenda Lee. Mas, do jeito que anda minha memória,
o nome que me vinha era Sandra Dee, e da canção só me lembrava da primeira frase... Tive que olhar na internet pra relembrar...

E ontem li a crônica em que você fala da nuvem sobre a cabeça, Perguntei ao David (que é, entre outras coisas, quadrinhista),
sobre o personagem que você mencionou e ele me disse o seguinte: a nuvem escura sobre a cabeça é uma figura de linguagem dos quadrinhos,
equivalente ao “nuvens negras” da linguagem oral, significando problemas, má sorte, por aí. O personagem Cascão, do Maurício de Souza, foge dela já que tem pavor de água...
E David lembrou de uma outra série de quadrinhos em que a nuvem está sobre um “carro-castelo” (ele me disse o nome, mas já esqueci), também representando alguma coisa
Ameaçadora (o castelo seria assombrado?!)

Bjs
Ana

Oi, Ana,

Não conheço "I'm sorry" e essas diferenças mostram quanto podem diferir as experiências individuais.

Quanto a "nuvem escura a obnubilar a psique de dada personagem" gostei muito de aprender ser um recurso recursivo da linguagem quadrinista que, aqui mesmo, pelas diversas respostas, se vê ser empregado por diferentes autores com diferentes personagens. Do carro-castelo nunca ouvira falar.

bjs, c.

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