Sinfonia inacabável

31/01/17

Uma frase singela soou-me bela como o raiar de um novo dia: "as folhas dão seu grito final em cor antes de cair no chão". Com ela o New York Times abria um artigo sobre as belas cores das folhas no outono ("Por que a folhagem do outono fica tão vermelha e fogosa? Depende.") e, é óbvio, aquela frase aparecia como: "Leaves scream their final cries in color before dropping to the ground."

Palavras, apenas palavras, mas é este o alimento do espírito e a ideia de folhas a gritar encerra, além da refinada permuta do visual pelo sonoro, um questionamento a respeito de nossa relação com todos os outros seres vivos, inclusive as plantas.

Seríamos capazes de "escutar" esse grito final de uma folha? Permanece nossa ligação vital com a natureza, em volta e por toda parte? A flor comprada como presente ou enfeite, a mosca atraída por odores melíficos, as larvas devoradoras de cadáveres, os misteriosos cogumelos - tudo faz parte da deslumbrante sinfonia da Vida. Do intrincado entrelaçamento de todas as formas de vida em um equilíbrio dinâmico.

Por certo, nessas paragens tropicais e brasileiras o espetáculo coletivo de cores outonais é muito mais discreto, sem os vermelhos intensos e demais variantes de tons afogueados. Apesar disto, é deslumbrante, mesmo se cada planta decidir por si o momento de seu outono.

O processo evolutivo nos preparou para disputar e ver toda vida ao redor como mero recurso, de que poderíamos lançar mão, ou não. Esta preparação eclipsa em parte a maravilha maior, a própria Vida. O verdadeiro milagre encerrado em qualquer vida, com sua história singular do nascimento à morte.

Por fim, eis a última corda a vibrar com aquela frase avulsa: as folhas morrem, mas a floresta, não. Os tenros brotos da primavera encherão tudo de verde e de vida, abrindo um novo movimento dessa sinfonia interminável.

Wed, 1 Feb 2017 09:12:14 -0200

Lindo, Clôde!

Tive a sorte de passar um mês nos EUA durante o outono, em uma cidadezinha pequena , muito arborizada.
Na Inglaterra também vi árvores no outono, mas eram muito poucas em Sheffield, uma cidade industrial. Em
compensação, a primavera foi bem florida (os ingleses adoram flores o jardim).
E na Granja tenho duas árvores imensas, que conheço como Pinheiro do Brejo. São nativas do hemisfério norte
e se colorem nesta época; depois secam no inverno e rebrotam com aquele verde clarinho de primavera. Li que em
Campos de Jordão existe um bosque dessas árvores
Quem sabe dou uma passada na Granja nos próximos meses pra ver como as minhas estão...

As amendoeiras de praia também se colorem, não é? Aí no Rio não lembro de ver, mas deve haver muitas.

Bjs
Ana

Obrigado.
Eu tinha um pé de Liquidâmbar, também um árvore do hemisfério norte comum em Campos do Jordão, que faz o seu outono mais ou menos em setembro e ficava verde e amarela nesta época, para começar a brotar antes de conseguir perder todas as folhas (como esta:)



Sim, o Rio está cheio de amendoeiras (chapéu-de-sol) cujas folhas se colorem no outono. A sinfonia interminável é linda por toda parte.

bjs, c.

PS: Você olhou a reportagem do NYT?


Wed, 15 Feb 2017 22:18:14 -0200

que texto maravilhoso...

de verdade, meu irmão...

      sem assinatura

Obrigado.
Maravilhosa é a Vida.
Aproveitemos.

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