crônica do dia

 

Solerte repórter

08/11/00

 

A menina noticia com pompa: "... os analistas do mercado recomendam ações desse ou daquele setor, tal ação..." e por aí vai. Pelo rádio, em amplitude modulada, o popular aeme, companhia da população que precisa enfrentar filas disso e daquilo para pagar as próprias contas e as do patrão. A fonte mais barata de informação, o radinho de pilha que acompanha o servente de pedreiro - ser pedreiro já é uma pedrada, servente de pedreiro...

A jornalista profissional, com diploma, carteira assinada, pis, pasep, fundo disso e garantia daquilo, parece estar lavando roupa suja em praça pública. Esses senhores das polpudas poupanças não deviam permitir certas intimidades diante de platéia tão grande e imprevisível! Deviam dar ouvidos ao alerta de uma sábia faxineira sobre certas imundícies: "Zombaria, não! Depois reclamam de assalto, de seqüestro, da violência... Não pode zombar descaradamente da pobreza dos pobres..." - e ia por aí sem diploma, sem carteira assinada, sem pis nem pasep, apenas com fundo de poço e garantia de continuar viva até a hora da morte, como reza a oração.

Mudo de estação. A jornalista dá notícias de Brasília com uma voz esganiçada, tão estridente e cheia de empáfia que sigo adiante no dial. Pela terceira vez uma repórter! O que aconteceu aos homens das redações? Esta explica que com a greve em quatro - e eu sublinho: quatro - companhias deixam de circular 25 mil ônibus na cidade... É assim que se faz notícia. Afinal, 25 mil ônibus na cidade, de apenas quatro empresas, merece manchete.

Pelas contas da menina cada companhia teria 6.250 ônibus, em média. Se cada um ocupar 20 metros, no comprimento, os ônibus de cada companhia fariam uma fila de 125 km! Na região sob incumbência da perspicaz repórter, as quatro companhias juntas, fariam uma fila de São Paulo até Rio e nem assim todos os ônibus sairiam das garagens... Desisti. Desliguei o rádio.

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