Solidão e Solidariedade

08/04/03

Há 22 anos saía o livrinho "O Que é Astronomia", na coleção "Primeiros Passos", da "Brasiliense". O autor, Rodolpho Caniato, matemático e físico de destaque dentro e fora do Brasil, termina sua obra com um epílogo que chamou: "Solidão e Solidariedade". Hoje, passo a ele a palavra, por não me achar capaz de dizer melhor o que sinto. Que fique, pois uma crônica anacrônica pela data de elaboração, mas atualíssima pela sabedoria do que diz:

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"Além do conhecimento dos objetos celestes você irá tomar consciência de quanto o homem é pequeno, em seu insignificante grãozinho de poeira perdido pelo espaço, a Terra. Você irá sentir a insignificância do tamanho do homem diante do Universo. A primeira impressão talvez seja de verdadeiro aniquilamento diante de tanta grandiosidade. Talvez a grandeza do homem esteja mais em ser capaz de compreender sua pequenez, diante desse Universo que ele consegue ver e até entender."

"E provável que, além do grande prazer da descoberta, a consciência da grandiosidade do Universo produza em você uma sensação de vazio e de solidão da condição humana. Sabemos que num raio de distância muito grande não deve existir nada capaz de ouvir nosso eventual pedido de socorro. Estamos sós, sobre a casquinha do grão de matéria, nossa Terra, que vagueia pelo espaço, cativa de uma estrelinha de quinta categoria, entre outros bilhões delas. Ser consciente disso provoca em nós um sentimento de solidão. É possível que esse sentimento de solidão ajude-nos a melhorar a vida sobre a Terra. Na medida em que compreendermos nossa pequenez e nossa solidão talvez percebamos o ridículo de muitas de nossas pretensões como depositários ou detentores da Verdade."

"Não esperamos que as pessoas "convertam-se" à Astronomia ou por causa dela. É possível entretanto que ela nos ajude a percebermos nossa própria fragilidade e a inutilidade de uma competição feroz em que quase sempre estamos empenhados, em nossas sociedades de consumo. Na medida em que percebermos nossa pequenez e os problemas que estamos gerando, talvez percebamos a necessidade de um trabalho e de uma sociedade mais justa e mais cooperativa. Os grandes problemas que o homem criou estão-se tornando cada dia mais graves e ameaçadores. Esses problemas só poderão ser resolvidos pela cooperação entre indivíduos e entre nações. Sem essa compreensão e cooperação a vida humana sobre a Terra corre um grande risco. Ela pode mesmo desaparecer ou tornar-se insuportável."

"Ainda que a vida humana extinga-se sobre a Terra, as estrelas e a beleza das noites estreladas continuará... indiferente às nossas tragédias. Seria uma pena se ai já não estivesse o homem para testemunhar e desfrutar tanta beleza."

"...."

Obrigado, Rodolpho Caniato.

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