autorretrato 

Sonho não sonhado

12/09/18

Custou-me algum malabarismo mnemônico mas, por fim, localizei, primeiro na lembrança e, depois, geograficamente, o terreno mencionado em um texto antigo, redescoberto agora por obra do acaso. Lembrei com precisão o lugar do sonho não sonhado e, muito mais surpreendente, com a ajuda do Google Maps, descobri, inclusive, o endereço: Estrada da Fazendinha, 1995, no município de Carapicuíba.

detalhe da numeração
detalhe da numeração

O terreno continua lá, mas aparentemente interditado e com vegetação alta na frente, antes inexistente, como não existiam, na época do escrito, os prédios vizinhos. Por ali, em 1977, compramos a Primavera, uma égua, posteriormente roubada, após parir uma eguinha.

estado do mesmo terreno em 2017 - imagem do Google
estado do mesmo terreno em 2017 - imagem do Google

Assim sendo, falta mostrar a antiga anotação entregue-me ontem pelo acaso:

Cheiro de Ouro Preto — lá, aprendi que ele vinha da queima de fedegoso. Meia-dúzia de galinhas e dois ou três galos a ciscar em meio ao estrume espalhado sobre a terra dura. Às vezes, uns poucos carneiros, as fêmeas prenhes, às vezes cabras sempre sem pasto e, à entrada, em um puxado, uma forjinha onde se ferram os animais.

Paisagem miúda, horizonte estreito. Lugar pequeno com jeito de escassez. Quase não se vê gente por ali. Fica lá o terreno grande, com cerca de alambrado reciclado, um barraco de tábuas e paus com uma chaminé de onde, às vezes, surge uma mulher na luz da tarde com um bebê apoiado no quadril.

Paro entre o cheiro incômodo da lenha que queima na pequena forja e o aroma de comida que emana da chaminé de flandres do barraco ao lado: me pergunto como e por que esta saudade de um sonho que não sonhei?

Sim, toda vez que passo pelo terreno que sobrou entre galpões de fábricas e comércio, com seu gado variado, que some e reaparece, descubro que existem coisas capazes de provocar uma inexplicável saudade de um sonho que não sonhei.

Passava muito por ali...

Wed, 12 Sep 2018 08:25:26 -0300

Saudades da Granja como era no final da década de 70, quando fui morar lá...

Bjs
Ana

Oi, Ana.

Pois é... também guardo ótimas recordações daquela época.


Wed, 12 Sep 2018 16:26:07 -0300

misterioso...

      sem assinatura

Nenhum mistério... Sensações vêm do emocional, independente e à revelia do racional.
O clima de "fazenda", de criação de animais, o cenário bucólico (não o da foto recente!), tudo isso tudo junto me deixava com uma melancolia gratuita.

Onde o mistério?


Fri, 21 Sep 2018 16:19:27 -0300

Primavera!!!!! Que saudade!!!!

Bruno Marques

Não lembrava de você com a Primavera...

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