No vértice da órbita, o Planeta assanhado
provoca outra vez sua estrela, seu Sol,
e exibe a visão mais íntima, sua parte de baixo,
na convenção absurda do sem pé nem cabeça.
De novo Verão no hemisfério de tanta água e raras terras!
De tanta gente com tão pouca grana,
hemisfério de outras estrelas, sem Ursa ou Polar,
de outras constelações... e a Próxima, ali,
Alfa Centauri - quatro anos-luz, pouco mais -
e Sírius, sempre mais e mais escandalosa...
luz azul que não se esquece, como a de algum olhar,
que um dia incerto, por certo, a ti, a mim, a nós fitou.

A contagem dos homens evoca um Salvador.
Dois mil anos na mesma e elíptica órbita,
que paz nos trouxe, de que nos salvou?
Param-se as guerras - são outros os fogos;
na trégua minguada, nos votos de paz.
E nos sonhos das crianças florescem mistérios
que nem soubemos - ou quisemos - compreender.
Trocam-se brindes, tilintam-se cálices
ou, debaixo da ponte, as latas, talvez.
E no meio das matas, refletidas nos mares,
as estrelas contam, na contagem dos homens:
no anno Domini de mil novecentos e noventa e seis.

desenho feito em um 386 com win3.11




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