Szent-Györgyi

 

Hoje, passo a palavra a Szent-Györgyi. Em minha imensa ignorância, jamais ouvira ou lera seu nome, até ontem. Pelo menos escrito dessa forma. É claro que já ouvi falar do santo guerreiro com seu cavalo, matador de dragões. O nome de um evoca o do outro. Mas aqui, falamos de outra pessoa, que morreu há apenas 13 anos. Encontrei o bioquímico húngaro - sim, além de húngaro, Albert von Nagyrapoit Szent-Györgyi era bioquímico - numa página com citações de cientistas famosos. A página reproduzia dois trechos dele. É um desse trechos que quero passar às delicadas mãos das leitoras que por cá ainda se aventuram.

Fui procurar mais informações sobre o autor e cheguei a um banco de biografias de um estudante da Universidade de San Francisco. Lá, aprendi que Szent-Györgyi nasceu em 1893 e viveu, como disse, até aos 93 anos ou quase, falecendo em 1986. Fiquei sabendo que foi ele que isolou o ácido ascórbico e descobriu a actina, responsável pela contração muscular. Em 1937, recebeu o Nobel de fisiologia e medicina por seu trabalho sobre as funções de compostos orgânicos no interior das células.

Nada disso me espanta. Passo a palavra ao desconhecido senhor Albert von Nagyrapoit Szent-Györgyi, não por seus feitos científicos, que por maiores que tenham sido, não poderia, sequer, compreender completamente. Ele ganha este espaço com suas palavras, reproduzidas de um livro que tem um título sugestivo: "The Crazy Ape". É daqueles que é melhor não tentar traduzir - crazy, além de louco, doido, também pode ser furioso, doido varrido etc. Como o autor adjetiva nossa própria espécie, prefiro manter o original. O livro é de 1971, publicado pela Grosset and Dunlap, New York. (Szent-Györgyi mudou-se para os Estados Unidos, depois da guerra.) O trecho que se reproduz aqui, da página 72, foi traduzido com meus poucos recursos e fala de suas inquietações por ocasião do prêmio. Fala Szent-Györgyi.

"Nosso sistema nervoso evoluiu com um único objetivo de manter nossas vidas satisfazendo nossas necessidades. Todos os nossos reflexos servem a esse objetivo. Isso nos torna absolutamente egoístas. Com raras exceções, as pessoas estão interessadas apenas em uma coisa: nelas próprias. Todo mundo, por necessidade, é o centro de seu próprio universo."

"Quando o cérebro humano ganhou sua forma final, há cerca de 100.000 anos, os problemas e as soluções deveriam ser muito simples. Não havia problemas a longo prazo e o homem precisava de qualquer vantagem imediata. O mundo mudou, mas nós ainda queremos trocar interesses mais vitais distantes por algum ganho imediato. Nosso complexo industrial militar, que ameaça o futuro da humanidade, deve sua estabilidade, em grande parte, ao fato de tantas pessoas dependerem dele para viver."

Isto é verdadeiro para todos nós, inclusive eu. Quando recebi o Prêmio Nobel, a única grande soma de dinheiro que jamais vi, precisava fazer algo com ele. A maneira mais fácil de se livrar da batata quente seria comprar ações. Eu sabia que a II Guerra Mundial estava a caminho e temia que, se tivesse ações que subissem no caso de uma guerra, eu desejasse a guerra. Então, pedi ao meu corretor para comprar ações que se desvalorizassem no caso de haver guerra. Assim ele fez. Perdi meu dinheiro a salvei minha alma."

Obrigado, Szent-Györgyi.

 

Publicada em 29 de abril de 1999

 

 

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