foto de 5 de dezembro de 2015

Tormenta

13/01/17

Após peculiar concerto de trovoadas e tímidas ameaças com pancadas rápidas de chuva pouca, desaguou, por fim, uma chuva muito forte a sugerir principiar-se ali outro dilúvio.

Bobagem. Passados uns dez minutos, já se fechavam parcialmente as torneiras do aguaceiro, a caracterizar a tumultuada estação de ares superaquecidos pela intensidade da radiação solar. Ao mesmo tempo, o azul intenso do galo higrométrico, trazido de Lisboa, se transmudava em um cinzento pálido, mas ainda levemente azulado.

Pouco depois, a tempestade apertou de novo e um grande volume de água desabou sobre concreto, asfalto e areia, sem falar no oceano, água também. Cresceu muito o barulho da água caindo, soma de minúsculos sons resultantes do impacto de cada gota em seu obstáculo.

Tudo me parece espantoso, a começar pelo volume de água, até há pouco escondido nas nuvens; o barulho muito grande da sinfonia dos pingos e o denso véu criado pela quantidade de água interposta entre os prédios mais distantes e nossos olhos - eles quase desapareceram!

Mais uma vez se amaina o temporal - não será preciso a Arca para salvar a bicharada. A quem tem a sorte de um pouco de solo exposto à intempérie, oferece-se um dos mais encantadores perfumes da natureza...

Rolam - a impressão é esta, de rolarem - ainda algumas trovoadas ao longe. O derramamento de água, antes diluviano, se reduziu a um chuvisco fino. Em quarenta minutos, a luminosidade e a chuva variaram entre extremos distantes. Insinuam-se, ao leste, veleidades de azul.

Finda a tempestade, o sol não retornou. O céu continuou nublado, ora mais claro, ora mais escuro, enquanto as poças se evaporavam, aves marinhas reapareciam em busca de ascendentes e passarinhos retomavam seus afazeres.

O dia termina sem estardalhaço e nos encaminha a uma noite de lua cheia de lua oculta, sem luar...

Fri, 13 Jan 2017 12:41:05 -0200

Um prazer ler a Tormenta. Quase senti o cheiro da terra molhada... Muito bom.

Grande abraço

Ebert

Muito obrigado.

Foi composto ao longo do temporal (tentando descrever como fazia com "cromos" pendurados em frente ao quadro-negro no primário...)


Me ocorreu que é ótimo você sempre guardar as tuas crônicas: um dia, quem sabe, vão documentar a mudança do clima - de que idiotas como o Trump ainda duvidam!
Bjs
Ana

Oi, Ana,

O clima está muito bem documentado e esta documentação guardada pelos computadores mundo afora, como as crônicas... Todavia uma catástrofe magnética, por exemplo, poderia "apagar" tudo (inclusive os dados sobre o dinheiro e suas transações!) e nos deixar, repentinamente, em uma espécie de "virgindade social"...
Há muitos anos penso nisto como tema para um eventual roteiro ou romance...

|home| |índice das crônicas| |mail|  |anterior|

2457767.00175.1524