crônica do dia

 

O tubinho

30/04/01

foto publicada nos anos 80, sem crédito

 

"Já pensou, cara? Três bilhões de mulheres? É mulher que não acaba mais. Literalmente. Três bilhões!"

É repugnante e, no entanto, pescou-se a idéia à superfície do inconsciente da humanidade, de sua parte masculina, é óbvio. Pode-se mudar o palavreado, dar um ar mais romântico ou, ao contrário, fazer a coisa tomar cores e odores de latrina de cadeia, mas o que conta é esse deslumbramento quantitativo adormecido no fundo de cada cara. O ápice da ganância sexual, com o tempero de uma auto-afirmação erótica cheia de inseguranças. Uma pista para o segredo do sucesso dos viagras. Do sucesso comercial, bem entendido.

Afinal, cada homem só quer todas as mulheres do mundo. Pouco importa se a façanha é matematicamente impossível. Três bilhões não dá. Basta calcular. O Barbosa Lima Sobrinho, que viveu 103 anos, viu pouco mais de 37 mil dias. Mesmo ele precisaria conhecer 81 mil mulheres por dia, desde o dia em que nasceu até o da morte, para chegar lá - três bilhões é muita gente!

Tem mais: um dia tem 86400 segundos. Dá um segundo para conhecer cada mulher ou - como também diz a bíblia - para com ela fornicar, numa batalha gigantesca, ininterrupta, da sala de parto até o túmulo, sem folga nem feriado. Assim, nesse ritmo alucinado e impossível, levaria 95 anos 23 dias 11 horas e 20 minutos, do útero ao caixão!

Diriam teóricos machistas: o impulso deriva da superabundância de espermatozóides e coisa e tal. Replicariam teóricas feministas: a distância é a responsável, a distância que separa o homem do macaco: é mínima, ou coisa parecida e iriam sublinhar se tratar do macho e não da espécie.

Primo Nicolau, que adora uma teoriazinha, aproveitou para meter sua colher: a culpa é da tal ciano-bactéria, que há 1,5 bilhão de anos, achou legal o tubinho que uniu seu protoplasma ao de uma outra bactéria, muito linda, por sinal e, assim, possibilitou a troca de informações genéticas, para tornar aquelas duas minúsculas criaturas, azul esverdeadas como as águas do mar onde viviam, pai e mãe da era da informação, da manipulação genética e, sobretudo, os inventores da reprodução sexuada...

 

|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|

 

2452030.283