Um cartunista perdido

08/01/15

Que se republique, hoje, o texto do dia 20 de agosto de 2001 mas, principalmente, a ilustração que o acompanhou de um quase anônimo garçom de um bar perdido no Bexiga, São Paulo.

Hoje, por causa da comoção universal face aos assassinatos brutais de ontem, dos cartunistas e demais pessoas, na sede da revista semanal francesa Charlie Hebdo. A única relação entre os dois é o bom caricaturista brasileiro perdido na metrópole paulistana a viver de eventuais gorjetas e um salário de garçom.

Encontrei o pequenino pedaço de papel, 91 por 98 mm, como está assinalado, oito anos depois (acho que ficara misturado a meus documentos) e o transformei na crônica daquele dia.

Que a publicação novamente de seu desenho, a mim ofertado junto com a conta, se some ao imenso coro de vozes a abominar a cegueira de mentes auto-intituladas religiosas, mas incapazes de compreender. Eis a publicação de então:

desenho do Eloi

O papo de hoje poderia ser somente o desenho e fim de papo. Mas aprendemos a encontrar explicações em toda parte para tudo, tim-tim por tim-tim. A escola nos treinou a receber o alimento como os filhotes de certas aves, que a mãe regurgita nas goelas depois de parcialmente o digerir. Assim, esperamos naturalmente por uma "explicação".

Todavia, as informações disponíveis estão todas na imagem, no canto superior direito. Não há mais. Se houve, o tempo comeu. Ignoro o sobrenome do Eloi. Não sei o que é feito dele. Nunca voltei ao Café Village, Bexiga, São Paulo, depois da terça-feira, 18 de maio de 1993. Quem sabe se, agora, o Eloi ilustra páginas da internet ou continua lá, com a mesma obsessão, a rabiscar no pequeno bloco das contas, em poucos minutos, a caricatura do freguês com a caneta bic.

De todo modo, hoje, a crônica é do Eloi.

Faltavam, então, 22 dias para o 11 de setembro.

Thu, 8 Jan 2015 11:58:30 -0200

Emocionante, Clode. E que máximo o Elói.
Beijo, bom dia - porque, em meio às trevas, tem esse sol e esse céu azul...

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Por um acaso desses inexplicáveis esbarrei hoje na croniquim antiga. Seria um desaforo (como dizia minha mãe) se não a divulgasse novamente. Que bom que você gostou. Viva o céu azul e o sol beleza! Bom dia.


Thu, 8 Jan 2015 16:40:19 -0200

que bela lembrança do seu...Eloi, mermão.

      sem assinatura

Acontece ter sido obra do Acaso, assim com maiúscula como quis Buñuel, não foi uma lembrança... a memória falha...


Fri, 9 Jan 2015 16:25:18 -0200

que desenho lindo!

      sem assinatura

Pois é, também acho, e feito com bic num pedacinho de papel...


Sat, 10 Jan 2015 11:16:02 -0200

Muito legal, Clôde!
Mais uma que vai pro arquivo...
Bjs
Ana

Mais uma vez, obrigado. Pena um dote assim a servir bêbedos nos Bexiga...


Mon, 12 Jan 2015 00:04:27 -0200

ADOREI ADOREI ADOREI ADOREI: a crônica, lógico, e o impressionante desenho do Eloi, desperdicio de talento, e a frase conclusiva: "imenso coro de vozes a abominar a cegueira de mentes auto-intituladas religiosas, mas incapazes de compreender".
Só fiquei sabendo da brutal tragédia ontem, pois estava totalmente fora do ar no Muquém. Anteontem foi instalado lá na nossa casa um celular rural. O que nnao significa estar conectado a notícias.

E viva o Muquém!
Lá se escapa do "controle de mentes" exercido pela mídia.
O cara é muito bom mesmo, ou era, o desenho tem mais de 21 anos.
Deve haver muitos casos semelhantes.

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