fotografia de 14 de março de 2017

Um destaque visual

10/08/18

Paro frente a esta fotografia de Leonardo Benassatto, da agência Reuters e pasmo ante a quantidade de perguntas que ela pode suscitar. A imagem fala uma outra língua e não pode ser medida em termos verbais: vale mil palavras, muito menos, muito mais.

fotografia de Leonardo Benassatto, da agência Reuters
fotografia de Leonardo Benassatto, da agência Reuters

Fosse outro o fotografado, qual a influência disto na relação da imagem com o espectador? Fosse outra a situação atual do ex-presidente, igualmente, mudaria o modo como a imagem nos atinge? E por aí afora é possível enfileirar questionamentos a partir desta imagem contundente.

Talvez não seja possível falar do retrato e ignorar absolutamente o retratado, mas seria minha vontade. É óbvio ter a pose do Lula, quando relacionada a suas presentes tribulações e pretensões, importância decisiva na força desta imagem. Do mesmo modo, o fato dele estar muito corado cria uma integração cromática interessante com o misterioso fundo fora de foco, onde um rosto apenas insinuado — de homem, de mulher? — cria, para mim, uma sensação de apreensão quanto ao porvir.

Ignoro o que possa ser esta imagem de fundo — um cenário teatral, um outdoor, uma tela digital, uma montagem? — como também não sei quanto de seu desfoque veio da obtenção da fotografia do Lula, quanto é original da imagem de fundo. Certamente não é uma cena real fotografada junto com o primeiro plano.

Em contraste, a imagem precisa do hoje prisioneiro traz minúcias e sutilezas a provocarem verborragias. O gesto e o rubor da cabeça do ex-presidente — seu rosto não aparece! O rosto, a quinta-essência da comunicação dos mais íntimos sentimentos — traduzem mesmo assim e inequivocamente sua aflição, talvez o seu sofrimento.

É uma imagem eloquente e bela, reduzida a sua expressão mais simples, mesmo para aqueles que ignoram completamente tudo sobre o Brasil e sua história política recente.

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