Publicação esporádica para se perder como inútil mugido de vaca.

Um pungente piar - singelo, curto e decrescente. Repete-se sem regularidade, o intervalo de tempo é ora pequeno, ora grande. No entanto, se repete noite e dia, mas não o ouvi de madrugada. O som evoca sofrimento, lamúria, luto - quase como tradução sintética de um profundo e prolongado ai.

Persistentes buscas janela afora não desvendaram a origem do ruído. Misterioso, mais de uma vez, ao ali chegar parecia-me ouvi-lo vindo do interior, de onde eu estava. Parece a voz de algum pássaro, mas me ocorreu outra hipótese, de ter origem mecânica, um roçar de eixo nos mancais ou uma fricção de metais, por exemplo. Cercado por grande número de aparelhos de refrigeração - de todos os tipos e tamanhos! - seria plausível se originar em algum deles o tal piar pungente.

Às vezes, tudo cala e o misterioso ruído também. A temperatura sobe e as fachadas fechadas sobre os pátios de fundo reverberam intensamente as radiações do sol. Na ofuscante véspera de solstício, surgem outros piares, vozes inconfundíveis de passarinhos, cheias de alegria.

À noite, em céu de poucas estrelas, o quarto crescente ruma à lua cheia de Natal. Alheio aos astros, o lamento insiste e são quase 23 horas. De longe, se alteiam vozes a falarem simultaneamente pontuadas, de tempos em tempos, pelo pio misterioso. O vozerio se eleva cheio de exaltação, desentendimento. Mas, em primeiro plano, o gemido de uma nota só.

Aí o o acaso resolveu o enigma do misterioso som sem aviso ou preâmbulo: sentei-me ao lado do pequeno e velho ventilador de mesa - nos últimos dias, ligado ininterruptamente. Ali sentado e distraído, de súbito ouço, bem junto a mim, o tal piar pungente. Mais um pouco e a "voz" por mim antropomorfizada se repete. Mais nenhuma dúvida - em vez dos aparelhos das fachadas, o velho ventiladorzinho gemia a meu lado com eloquência.

Mon, 21 Dec 2015 11:25:56 -0200

A ironia: uma gota de óleo Singer calaria o lamento...



Grande abraço

Ebert

Na Granja, tinha três ou mais "óleo Singer", um em cada canto.
Aqui, ainda não lembrei de comprar...
Obrigado pelos votos e pela bela imagem.

Mon, 21 Dec 2015 09:47:16 -0800 (PST)

pensei q o solsticio era hoje
alias, o calendario daqui, de parede, dos antigos, diz isso
bjs?

E é!
Aí. São oito horas sua diferença para Londres.
Como o solstício é às 4h48min GMT, sim, ainda 'será hoje' na Califórnia.
Aí, às 8 horas e 48min, certo? Aqui, serão 2h48 da madrugada do dia 22.

Mon, 21 Dec 2015 16:48:55 -0200

Obrigado digo eu.

Mon, 21 Dec 2015 23:05:28 -020

... e o mano aqui ainda não descobriu
o que viria a ser.. er er er... não sei
bem o que viria a ser...... er er er...

AH!!!!

Claro... Tão simples, como não pensei nisso
antes e agora posso dizer, com segurança
no sentido inclito do supra citado...

antropomorfizada

ou

antropomorfizada

Fácinho facinho...

antropomorfizada...

óbvio que é... óbvio...

como aprendo com o irmão mais sábio, né?

respeitosamente...

(acho que estarei pela aí em alguma momento acredito...)

bjos

Tenho uma desculpa!

Anucha, que cursou (mas não completou) Sociologia e Psicologia, usava bastante esta palavra.

Vou corrigir no sítio do clode, colocarei a definição do dicionário para aparecer quando se parar o mouse em cima. (Deveria tê-lo feito)

Desculpe. Aqui vai, do Houaiss:
"antropomorfizar    Datação: 1892
* verbo
transitivo direto
1 atribuir a (algo) forma ou características humanas
pronominal
2 adquirir forma humana"