'Meu primeiro desenho' by  Anucha [1991]

Uma frase inacabada

15/08/16

Encontro uma frase incompleta. Esquecida, interrompida, não se arremata e a inexistência de conclusão atiça todo tipo de especulação.

Imagino um fragmento perdido, existente ao menos por um instante na cabeça do escritor e agora irremediavelmente irrecuperável, haja vista o tempo transcorrido.

Mal a cena se insinua pintada com luzes, talvez por um ocaso distante, talvez apenas pelo devaneio de horizonte nos reflexos, refrações e difrações da borda de uma taça de cristal, ou melhor, de vidro mesmo, vagabundo, a propiciar efeitos de contraluz mais espalhafatosos.

Posto o cenário, emerge a presença humana, afloram vestígios de sofrimento entre reminiscências de um passado incógnito ou alguma personagem não sabida...

Tudo parece possível! A incompletude da frase a espraia como largo delta fluvial e multiplica possíveis desfechos para a arrematar... Por um momento, parece encaminhar um melodrama no estilo das canções de Piaf... Não, antes celebraria apenas o espetáculo luminoso de cores intensas, rasgadas por lâminas ofuscantes de luz, mas... há lágrimas engolidas?

Quem estaria a sofrer (ou sofrera)? Embora existam lágrimas de alegria a transbordar emoções, estas não se engolem, vazam a lavar tudo por dentro e por fora... Ademais, tem um carrossel ali, felliniano, a clamar por um fundo musical de Nino Rota. Sim, um carrossel dos sonhos, se diz, onírico como Fellini!

E conforme se ampliam as possibilidades, mais se faz urgente pôr logo às claras a origem, a frase inacabada:

"O efervescer de luzes a girar e estourar no horizonte não é a borda de teu copo de espumante, que oscila e treme ante olhos por tudo baços, pela névoa do tempo, pelo véu da longevidade, pelas lágrimas engolidas, não fervilham no horizonte de teu tempo as luzes do carrossel dos sonhos onde os mais "

E você, como a terminaria?

Mon, 15 Aug 2016 09:56:28 -0300

"O efervescer de luzes a girar e estourar no horizonte não é a borda de teu copo de espumante, que oscila e treme ante olhos por tudo baços, pela névoa do tempo, pelo véu da longevidade, pelas lágrimas engolidas, não fervilham no horizonte de teu tempo as luzes do carrossel dos sonhos onde os mais improváveis devaneios perdem sentido e forma. Lembranças são como as pequeninas bolhas na taça, que sobem à superfície para se misturarem ao ar que respiras e que te mantém vivo"

PS: Amigo. Volto de uma temporada de 9 semanas em Curitiba, onde estive gravando uma série para TV. Esse é o motivo do meu silencio para contigo. Volto agora a essa quase rotina paulistana. Grande abraço. Ebert

Genial!

Perfeita obra a quatro mãos! Obrigado. Quando trabalhei na assessoria de imprensa do governador Montoro, inúmeras vezes escrevíamos, o Simon e eu, longos textos a quatro mãos e até hoje nos espantamos como funcionava bem...

Nove semanas é um longo tempo... ou não. O tempo sempre nos confunde.


Mon, 15 Aug 2016 11:47:26 -0300

não saberia como, complexa demais pra minha escrita ;)

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Obrigado.

O Ebert a completou brilhantemente. Veja acima.


Tue, 16 Aug 2016 20:21:33 -0300

Claro que também fiquei curioso pra saber como combina, né?

Se aparecer... me conte.

(obrigado por dividir...)

      sem assinatura

Não apareceu, pois creio nunca ter sido concluída, mas um grande amigo, o Ebert, arrematou brilhantemente a frase inacabada. Veja acima.


Wed, 17 Aug 2016 16:56:10 -0300

Que delícia reencontrar esta arrebatadora canção
de Edith Piaf...
ouvir e reouvir... sempre!!

brigadin!!!!

      sem assinatura

Também a mim arrebata, esta e outras canções dela, a insuperável Piaf.
Que maravilha ter tudo assim disponível ao alcance de um clique!

Obrigado a você, por sua gentileza.


Fri, 19 Aug 2016 17:15:00 -0300

onde os mais ... prolixos adjetivos se alternam em dança ortográfica que derrama pela borda do inexistente copo por onde verve e goteja a gota milagrosamente translúcida e perene quado encontra a indescritivel efervescência do liqudio gotejante espumoso como onda marinha cor de âmbar que contém tantos fósseis da existência que somos todos nós e ainda seríamos se possível fosse nossos próprios reflexos num espelho que não se quebra mas reflfete dez mil miríades de luminiscênica anti-antagônica e revela senão o filme ao menos o fim de uma frase incompleta


ou não

      sem assinatura

Perplexo, escuto cada bolha dessa taça aflorar e pipocar qual nota certa de improvável melodia a provar e provocar, de repente, um fértil repentista a dirigir como maestro, se não o filme, a oração acabada agora com perfeição...

Obrigado.

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