Vento forte

27/11/15

Na falta de assunto se fala do tempo: "... é, parece que vem chuva aí...", "nossa, esfriou de repente!", "... espero que tempo fique bom no fim de semana..." e por aí afora pois, mesmo com poderosíssimos computadores capazes de complicadas simulações matemáticas, as previsões, volta e meia, dão com os burros n'água.

Seja no elevador ou qualquer outro confinamento capaz de exacerbar o absurdo do silêncio e fazer insuportável a ausência de assunto, a meteorologia acode como tema de interesse universal e, aparentemente, plenamente dominada por qualquer um, do Cacique Cobra Coral ao ajudante de servente de serviços gerais todos se julgam aptos a falar do clima, como o bom senso assinalado por Descartes.

Assim, ponderei se aquela missiva tinha um traço de ironia: seria elogio ou apenas gozação? Suas palavras diziam na lata: "Sempre uma delícia tudo o que você escreve a respeito do vem e vai dos mares, ventos e outras coisitas mais..."

Ora, hoje, um vento forte e constante aguçou-me a dúvida e a absoluta falta de assunto ardia sob o açoite das rajadas. Falemos, então, do vento a ver se se semeiam tempestades.

O site dava ao vento velocidade de 20 km/h e a multidão de bandeiras fincadas na praia e nas fachadas dos hotéis confirmavam, inequívocas, a direção: vinham do leste os sopros fortes e úmidos. No mais, o mar vinha e ia na incerteza de suas ondas e marolas, sempre a apagar vestígios e "revirginar" areias. Longe, o mesmo vento limpara brumas e névoas e traçara um horizonte menos incerto, povoado de cargueiros além de uma plataforma de perfuração a se afastar no rastro de gigantesco rebocador. Entre os dois, o horizonte e a praia, os mesmos ventos desenhavam com espuma vasto e belo rebanho no mar.

Que bons ventos nos tragam maior lucidez, mais compreensão e um mundo melhor repartido.

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