Ontem, 13 de outubro de 2010, em cada casebre, em cada mansão, em cada quartel, em toda prisão, nos silenciosos conventos e sob a fúria dos ventos se celebrou o salvamento de homens já enterrados antes de morrer. Que buscava cada olho parado na tela de televisão? Simples, uma dose forte de emoção. Alimento para o pedaço de nós que antecedeu a razão. Para esta, abundam suplementos e provocações, mas também o mais recôndito do cérebro tem sede e bebe com sofreguidão tudo que provoca emoção. E a emoção alheia é garantia de nossa emoção por um mecanismo básico: a empatia - o automatismo em nos colocarmos no lugar do outro, em sentir o que ele estaria sentindo, desejar o que o outro desejaria etc. Todavia, ontem, somou-se ao banho de mar de emoção importante aspecto quantitativo e espacial: bilhões de seres humanos compartilhavam uma mesma emoção, ao mesmo tempo a toda roda da Terra e, mais: concomitante com os fatos, testemunhas síncronas dos acontecimentos. Como se costuma dizer, 'ao vivo', em tempo real. Não era cena de novela, gravada e editada, era gente como a gente ou, até, mais gente que a gente sendo pescada no fundo de um poço de quase um quilômetros de profundidade. (O daqui de casa tem 22 metros e me parece sem fundo!) Foi como um rito do esfregar de antenas das formigas ou a mútua 'cheiração' de cães ao se encontrarem. Um contato emocional de uma parte enorme dessa humanidade espalhada pela casca do planeta. Um rito de união de muitos e do afloramento de um lado menos feio de nós. Um abraço assim universal mudaria esse ser feito de tantos homens? O ser do qual cada um de nós não passa de folíolo, a tal humanidade mudou, evoluiu, amadureceu, tornou-se mais meiga depois deste banho num rio de emoção? Assinale-se, também aqui, o dia 13 singular deste outubro de 2010. |
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