Vai acabando o dia da rua, uma sexta-feira singular se comparada aos dias que a antecederam: o tempo esquentou, o tempo secou e tornou-se ubíquo o quanto o corpo e a cabeça do ser humano parecem feitos sob medida para dias de calor. Quente se finda este vinte e cinco de março, o dia da rua, que celebra não sei que feito, outrora reduto de árabes com seus armarinhos e lojas de quinquilharias e, hoje, tomada por essa guerra comercial de proporções mundiais, como tudo, inundada de imitações e falsificações e da venda das grifes de muita fama em produtos duvidosos e por preços ao alcance da plebe rasteira, disputa que tanta espécie causa aos nobres do capital, a eles, criadores e estimuladores da concorrência comercial.
Aprendi, há muito tempo, que o Japão se reergueu de duas bombas atômicas e uma guerra, de quebra, por não ter assinado tratados de patentes e poder copiar e fabricar os melhores produtos do mercado. Nas lides da Fotografia, então, testemunhei as cópias japonesas das câmeras alemães da Zeiss e da Leitz, a Contax e a Leica, as precursoras da Nikon e da Canon. Hoje, ao que parece, a China põe em prática a lição dos antigos inimigos e esparrama pelo mundo produtos 'semelhantes', similares muito mais baratos que os originais e, enquanto se discutem direitos e sutilezas das leis, a multidão acode ao inusitado mercado, dentro e fora das lojas, de brilhos fáceis e petrechos pavonescos, de pedras coloridas e lantejoulas cintilantes, de vidros lapidados e mil purpurinas; mercado de tostões e cambalachos, de escambos e trocas.
Mercadores de uma das incontáveis São Paulo fizeram célebre a rua que comemora hoje alguma façanha de um passado, para mim, irrecobrável. A Vinte e Cinco de Março, se prepara para outro vinte e cinco, o de seu apogeu, o de dezembro.
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