(de esporadicidade imprevisível)
A arte de insinuar
20/12/18
As mulheres, muito mais do que os homens, são peritas na arte das insinuações e, sem dúvida, para tornar a vida mais bela, é mister saber insinuar. No dicionário, insinuar é sinônimo de inspirar e inspirar remete à divindade: "exercer ou receber influência sobrenatural ou divina", afora "introduzir (geralmente ar) nos pulmões". Assim, procuro uma alternativa inédita como tema e como insinuação, ou seja, como inspiração e prenúncio do porvir, como os acordes de alguma sonata ou de uma bela sinfonia a anunciar seu final grandiloquente. Há muitíssimo tempo, encaro tais preâmbulos do fim como marca inconfundível de uma grande obra de arte. Eles me calam fundo e verdadeiramente me comovem, como se existisse, ainda, a possibilidade de, por efeito de qualquer magia, impedir o término de obra assaz prazerosa. Quem dera os desenlaces da vida, cada epílogo, fosse do que fosse, se fizessem preceder das insinuações e preparos trazidos por acordes e melodias, ou por palavras e encenações a anunciar o fim que não se pode evitar. O filme acaba, o letreiro confirma: "The End" (intrigante igualmente para o jovem pouco afeito ao idioma inglês: me questionava por que o artigo? Por que seria aquele O fim e, não, apenas um fim.) Acendem-se as luzes. Rompe-se o encantamento. Há uma mudança de realidade. Fora do cinema as buzinas buzinam, os motoristas se impacientam. Vermelho, o sinal fecha. Há fins e fins. Alguns são mera formalidade, como o final de uma sessão: logo terá início a seguinte. O fim do caminho de ida inaugura o caminho da volta. A estação terminal é, em sentido oposto, a inicial. Saber tão somente insinuar o que está por vir, apenas deixar transparecer nas entrelinhas um futuro momento de regozijo recompensará este texto, a buscar inspiração nas artes mais sutis da essência feminina. |
Fri, 21 Dec 2018 00:51:47 -0200
Oi, Ebert, Rita. Sun, 23 Dec 2018 18:27:25 -0200 Muito bom! sem assinatura Que bom que gostaste! |
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|