Desliza com suavidade e asas imóveis a ave marinha. A articulação de suas asas forma, em cada uma, um ângulo obtuso e desenha assim o vê aberto característico de sua forma. Navega correntes aéreas invisíveis ao olhar, exceto quando nelas mão ou acaso soltam uma pequena pluma ou outro objeto leve e capaz de oferecer resistência ao ar. Esta passou solene e sozinha, em geral, andam em bandos, às vezes em elegantes formações também no formato daquela letra.
Sobre ela a abóbada se fecha em nuvens claras, a permitirem até um leve mormaço com sensação de ar "pesado" e imóvel com, no máximo, uma leve brisa a contrastar com o abafamento. Chegaram outras duas aves e, agora, as três descrevem lentamente círculos sobre os prédios na beira da vastidão oceânica.
Além dos céus noturnos, o ar e seus deslocamentos e danças, seu perene modificar-se, nos colocam diante da nossa real dimensão, estabelecem outra escala menos egocêntrica, mais universal e, ao contrário das aves, pouco aproveitamos a gigantesca quantidade de energia gerada em nossa fina camada protetora da Vida. O delicado e essencial invólucro azul do planeta Terra.
Peixes e demais habitantes marinhos navegam em um meio mais denso, aves e insetos "nadam" num mar de ar bem mais rarefeito. Dir-me-ão: há também aviões, balões e foguetes, feitos humanos a povoar tais imensidões. Sim, o sonho milenar de Ícaro se realizou, se transformou e galgou a atmosfera e muito além, ainda assim nos vemos impotentes diante dos furação, tornados ou de um simples vendaval.
Bastam as diferenças de pressão em vastas áreas da atmosfera e se engendram tormentas a resultarem em destruição e morte. Aproxima-se o equinócio. As condições de aquecimento do planeta sofrem grandes mudanças e elas originam perturbações na atmosfera e consequentes dores de cabeça.
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Thu, 8 Sep 2016 16:12:01 -0300
... e agora que nós, mortais desse planetinha, descobriram um possível outro planeta se dirige pra nós... etc etc... tá animado o nosso espaço planetário, né?
sem assinatura
Sim, é verdade, apesar da distância imensa da Alpha Centauri (o "Sol" do planeta recém-descoberto)...
Mas aqui mesmo nos açoitam ventanias e tempestades, furacões ou pequenos redemoinhos a esconderem sacis, como quis Monteiro Lobato...
Wed, 28 Sep 2016 13:08:25 -0300
Oi de novo (como você já deve ter adivinhado, estou botando o correio em dia...).
Mais uma crônica muito bonita! Me lembrou o que aprendi em um livro de Lorenz (o etólogo que ganhou um Nobel) sobre cardumes de peixes, que ele chama de sociedades verdadeiramente democráticas (acho{?} que é num livro chamado On aggression). A história é mais ou menos assim: os peixes de cardume se mantém naquela formação meio ovalada controlados pela proximidade com os parceiros do grupo. Se um indivíduo é atraído por alguma coisa fora da rota do cardume (em geral um alimento), ele pode se afastar um pouco, mas logo retorna; no entanto, se for seguido por outros parceiros, e dependendo do número destes, o cardume inteiro se desloca na mesma direção. Não há um líder fixo - a direção de deslocamento do cardume é determinada pela maioria... Bonitinho, não é? Talvez os bandos de aves tenham um mecanismo semelhante - por exemplo nas migrações - mas não lembro de literatura a respeito (deve haver). Há também uma hipótese de que a organização em cardumes é adaptativa porque confunde os peixes predadores, que podem perceber o cardume como um peixe grande...
E isso me traz mais uma lembrança: as regularidades meio mágicas nas formas da natureza. Não sei se é verdade, mas em O Código Da Vinci o autor desenvolve um argumento sobre a série de Fibonaci. Filho de matemático, você deve entender disso, veja se está certo: segundo ele, é “uma sequência de números em que a soma dos termos adjacentes equivale ao termo seguinte, e os quocientes de termos adjacentes têm a propriedade de irem se aproximando do número PHI (=1,618)”. Aí vem a mágica da natureza: “plantas, animais e até seres humanos possuem propriedades dimensionais que se encaixam com exatidão espantosa à razão de PHI para um - o que veio a ser chamado de Proporção Áurea ou Divina Proporção. Alguns exemplos dados: número de fêmeas dividido pelo número de machos em uma colmeia; razão dos diâmetros das espirais da concha de um tipo de molusco e das espirais opostas das sementes de girassol; as proporções entre ossos humanos tal como descritas por Da Vinci no Homem Vitruviano... Será maluquice do autor ou é verdade?... Não repare, eu não me lembro nem de ter estudado ou mesmo ouvido falar de Fibonaci em aulas de matemática ou de Filosofia da Ciência (por essas e outras, sempre acho que aprendi mais com literatura - em sentido amplo - do que na escola...)
Bjs
Ana
Oi, Ana,
Acho que para saber tanta Matemática seria preciso NÃO ser filho de um professor de Matemática. Quanto a sequência de Fibonacci, tinha uma vaga lembrança e agradeço muito a sua aula. Já o número áureo é uma "paixão antiga" e, no ano dois mil, motivou uma destas croniquinhas...
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