Era uma vez um reino muito próspero e muito distante. Seu povo tinha o que precisava e seu Rei era bondoso, mas não era feliz. Não me lembro das palavras, é óbvio, mas começava mais ou menos assim a historinha de poucas linhas que vinha no final de cada lição, no livro de classe de francês, "Le Français par la Méthode Directe", que li há cerca de meio século e não esqueci. É pouco para começar: dinheiro e poder não garantem a felicidade, mas o tempo me fez olhar com mais simpatia a fábula da camisa do homem feliz. Mais do que pela lição que pretende, ela hoje me sublinha que todos buscamos o mesmo... mas, primeiro, à história. Adivinhos, oráculos, sábios e anciãos reunidos concluem que o único meio que resta ao soberano para obter a felicidade é vestir a camisa de um homem feliz. Assim, o Rei parte com seu séqüito em busca de um homem feliz. Como já se adivinha, o bom Rei ouve, de cada um a quem pergunta se é feliz, uma história diferente a explicar por que não, em que lhe falha a felicidade. Passam-se anos e léguas até que o monarca desiste. Ao voltar para seu reino, vê ao longe um homem que cultiva um campo de grãos. Dá ordem de apear e, enquanto espera os mensageiros anunciarem sua presença e desejo de conversar ao homem, delicia-se com o entardecer no amplo horizonte. Ao ver que o homem vem em sua direção, também ele, Rei, caminha ao seu encontro. Conversam. O homem confirma: sim, é feliz.
O soberano, então, explica o vaticínio antigo e se propõe a pagar bom preço pela camisa do lavrador. Diz que mandaria outras, quantas quisesse, de seda etc. O homem, então, abre sua capa e mostra ao rei seu peito nu. Como disse, no livro de francês tudo se resume em meia dúzia de linhas. Não é preciso mais. Há cinqüenta anos eu não via que todos nós procuramos, de um jeito ou de outro, esta camisa que veste um peito nu... |
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