Negro, aparentava ter uns de cinquenta anos. Figura habitual por ali, já nos cumprimentávamos com meneios de cabeça quando nos cruzávamos. Não sei se era vigia dos carros estacionados ou qual outra razão o poria sempre naquela esquina.

Ontem, após o aceno de cabeça habitual, me falou: vem chuva. Ao ouvir, parei e voltei-me para lhe dar atenção. Ele explicou: olha lá, pode ter certeza, quando o mar "tá" preto assim é chuva na certa.

Olhei para o faixa de oceano espraiada além da praia para constatar que, efetivamente, parecia negra no cenário pintado por luzes, areia e um céu carregado de nuvens. Ele concluiu com algo como: pode esperar e eu lhe agradeci a lição: é-se velho mas sempre se pode aprender. Ele sorriu.

Segui, atento àquele mar incomumente preto, de fato e percebia outros sinais de mudança no tempo quente, muito quente, de um dia até há pouco ensolarado. Tivera notícia de um temporal em São Paulo, no começo da tarde,com os costumeiros alagamentos, transbordamentos e demais danos trazidos por tempestades violentas. Agora, ainda dia, mas começo de noite nos últimos dias do horário de verão, o vento soprava forte, de sudoeste e a luminosidade caía sob nuvens carregadas.

Pouco tempo depois, somou-se ao vento o som de algumas trovoadas. De repente, um raio se destacou entre as nuvens e não demorou muito para caírem os primeiros pingos pontilhando as calçadas ainda cheias de confetes. Meia volta, rumo de casa - a chuva chegava, ainda chuvisco, mas confirmava-se a previsão do mar preto.

Na volta, o mar parecia mais claro para leste e escurecia até o preto para oeste. A cor do mar vem de múltiplas reflexões, refrações e interações complexas da luz. Aprendi ontem: é preciso na palheta de marinhas um preto profundo para pintar o mar antes de temporais. Depois, a tempestade chegou.

Tue, 16 Feb 2016 11:16:43 -0200

COISA LINDAAAAAAAA!!!!!!!!!!!
Uma das mais lindas que você escreveu, precisa, impecável!!!!!

O título me remeteu a uma canção do Tim Maia, que agora se repete na minha cabeça "... ter um sonho todo azul/ azul da cor do mar..."
Sua crônica é mais completa do que a letra do Tim Maia. Pelo menos no que se refere à palheta e, claro, à habilidade de nos trasportar pra avenida Atlântica pré-tempestade, de cara pro mar, com vento na cara.
OBRIGADA!!!!!!!!!

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Que coisa, menina! Que bom você ter gostado tanto. Publiquei titubeando em fazê-lo, por não gostar tanto.
Da música do Tim Maia não lembro, mas um mar preto - e era mesmo preto! - me surpreendeu.
A cor do mar é mutável e imprevisível!
Obrigado eu.

Wed, 17 Feb 2016 22:12:38 -0200

Lindo. Gostei de tudo!

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Que bom! Obrigado.