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A Liga19/09/01Chovem listas pela paz. Em português, inglês e espanhol. Algumas se dizem da ONU, outras dessa ou daquela ONG. Querem milhares de assinaturas, isto é: nomes. Primeiro se faz a guerra. Extravasamos o ódio com toda fúria em busca de alívio psicológico. Depois, face ao medo da morte, do desconhecido, clamamos por paz. Cantamos, rezamos, soltamos pombas brancas e, os que podem, participam das listas eletrônicas. Professam a fé das estatísticas. É fácil obter assinaturas pró ou contra qualquer coisa. Em, 1966, a terrível organização "Família Tradição e Propriedade" colocou bancas por todo o centro de São Paulo, com o abominável estandarte vermelho e um livro preto horroroso como os de cartório. Objetivo: recolher assinaturas contra o divórcio, cujo projeto tramitava no Congresso. Pois bem: um grande amigo que, como todos nós, nutria uma antipatia monumental pela efetepê, decidiu brincar e comprou o material necessário: um livrão preto, um pano de pó amarelo, um marcador de ponta grossa etc. Em pouco tempo, estava improvisada uma banca, ao lado da outra, só que a favor do divórcio, com um estandarte de flanela amarela: LSD - Liga das Senhoras Divorcistas. Depois de alguns minutos de farra, em pleno Viaduto do Chá, voltamos ao trabalho e coube ao Lemos, um contínuo, a tarefa de cuidar da banca e coletar assinaturas dos transeuntes. É óbvio que o pessoal da fetepê, já chamara a polícia e, em pouco tempo, o Lemos telefonava direto de uma delegacia: "tô preso porque não tem licença". Fomos buscá-lo e, na delegacia a surpresa: em poucos minutos, centenas de assinaturas a favor de uma precaríssima e inexistente liga, embora muito marmanjo se interesse por qualquer liga de senhora...
Enquanto alguns procuram alívio com as listas da internet ou nas ligas femininas, outros preparam o esconderijo para o presidente Bucho e sua turma. |
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