(de esporadicidade imprevisível)
A pegada
26/09/18
Um belo dia, percebi sobrarem em extensão as crônicas a que me obrigava como aprendiz. Tinham, na época, em torno de 4000 toques, como se dizia nos temos da datilografia ou caracteres, como nos informam atualmente os medidores de texto dos softwares, substitutos das máquinas de escrever sendo, eles também, modernas máquinas para o mesmo fim. Percebi o exagero do 4000 e me perguntei qual seria o tamanho ideal para uma crônica com pretensões de ser companhia para o café da manhã. Comecei a medir textos por toda parte. Com jornais e revistas a se inaugurarem na internet, foi fácil, sempre usando um editor de texto para contar instantaneamente o total de toques ou caracteres. Após muita medição, concluí ser ideal o tamanho médio dos textos editoriais da segunda página da Folha de São Paulo, sempre daquele ano mágico de 1997. Eles oscilavam em torno dos 1800 toques — impunham-me uma redução para apenas 45% do tamanho habitual. As novas cônicas poderiam ser lidas em dois minutos e quinze segundos por um locutor convencional, em vez dos cerca de cinco minutos necessários para as de 4000 caracteres. Hoje, querendo distância das urnas eletrônicas e seus candidatos, dos jogos, sejam políticos, esportivos ou de azar e de falar do sexo oposto, por mais que a locução se apresente indefinida na modernidade, ensaio preencher o tamanho estipulado absolutamente desprovido de um tema e muito menos de uma história a relatar. A ousadia poderá me custar leitores, mentes ávidas por informação útil, por citações proveitosas, quiçá eruditas, em vez de uma lenga-lenga sem pegada — pegada? Em que sentido cara-pálida? Ah, benditas palavras! São tantas as pegadas! E este cara-pálida aí? Alude por acaso à cor da pele? Certamente não, assim como a pegada nada pega e nem deixa marca de pé ou pata no solo. |
Thu, 27 Sep 2018 11:36:05 -0700 (PDT) gostei da pegada sem assinatura Que bom. |
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