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A primeira coisa02/03/07Amanhã é noite de Lua cheia, e mais: o satélite impar entre milhares, que não foi suspenso por humanas artes, desaparecerá, ou quase, escurecerá, se se prefere, ao passar pela sombra da Terra, que o Sol projeta bem em seu caminho. O disco de prata tão cantado ganhará as cores misteriosas e alaranjadas dos eclipses, e passará por todas as falsas fases e formas de luas crescentes e minguantes, em um show silencioso de pura e encantadora beleza. Se o tempo ajudar e a noite for gostosa como a de ontem, do lado de cá do fim do mundo, quente e transparente, que tal mudar um pouco a rotina e esquecer - por essas bandas dos trópicos cariocas e paulistas - a novela das oito com suas notícias de ontem através dos capítulos que se esticarão amanhã? Que tal largar tudo e sair? O mais difícil será achar horizonte amplo no rumo leste. A Lua, é óbvio, ali nascerá e a primeira coisa que uma cidade rouba de seus habitantes é a paisagem. O máximo do eclipse, a pino sobre a Nigéria, será, aqui, às 20 horas e 20 minutos. A Lua estará baixa (23º24'), mas o espetáculo mencionado começa bem baixo (15º) e segue até que a Lua chegue aos 45º. Ontem, do lado de cá, a noite foi espetacular e quente. Amanhã, como será? Ontem, também, caminhei ao longo de um espigão que, de um lado desce para uma propriedade dividida por muitos herdeiros, que pouco plantam e pouco criam, soltos no pasto, se assim se pode chamar o mato ralo - cavalos, cabras, vacas, galinhas e bois. Agora, começaram a vender, em pequenos lotes, toda orla que dá para a estradinha ao longo das curvas do espigão. O comércio brota com fertilidade que a terra, ali, há muito não vê, como não se vê mais, tampouco, o amplo e apaziguador horizonte, sempre foi companheiro daquele caminho... A primeira coisa que uma cidade rouba de seus habitantes é a paisagem. |
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