A realidade é apenas o que é. Outro dia um mestre e sua pupila quase brigaram a pôr em cena, de uma vez, gênero, autoridade e hierarquia. Não importa o tema em debate nem pretendo contar o que não vi, mas a certa altura, discutia-se a realidade e suas representações na arte, se e quando é possível tomar uma pela outra. Isso teria incendiado os ânimos, ou o animus...
A descrição da realidade, verbal, visual ou sonora, não é a realidade. Assim posto parece óbvio e até dona Sabrina se perguntaria porque me detenho com bobagens. Ora, apenas porque a todo o momento tomamos uma pela outra, a representação da realidade pelo que é.
Eis uma epífita formada por hastes verdes, flexíveis, que se ramificam nas extremidades em mais hastes, poucas e estas, eventualmente em outras e todo o conjunto acaba por formar uma espécie de tufo verde escuro. Essa epífita dá frutos agora, nesta época do ano. Pequeninos glóbulos translúcidos, como contas prontas para um colar, pronto este para um belo e macio colo ornar, diria outro com tino mais poético.
Os frutinhos atraem um passarinho que só aparece por aqui atrás deles. É belo, maravilhoso. É de um amarelo tão intenso, tão denso, tão ímpar que é impossível descrever. Não é amarelo canário, é mais forte, mais vibrante. Não é alaranjado tampouco, é amarelo mesmo. Em foto ou filme, em vídeo ou devedê, seria outra coisa - aquela cor é preciso ver. Asas, rabo, dorso e pescoço são negros, isso enquanto não lhes bate a luz direta do sol. Ao sol, o preto ganha reflexos como os das asas dos colibris, esverdeados, em tons de verde-azulado escuro. Tem mais: uma grande mancha oval no alto da cabeça, do mesmo amarelo psicodélico.
Pequeno, arisco, tímido, muito assustado. Só aparece para comer esses frutinhos, devagar, como se os mastigasse a cada um... A realidade é uma coisa, suas representações, outra.
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