Crônica do dia

 

Ainda uma vez

30/05/16

Preciso aprender a ignorar o aviso interno de "esse assunto já foi abordado" ou "isto você já contou" e outros equivalentes para aceitar sermos ao longo da vida eternos plagiadores de nós mesmos, como assinalava Nelson Rodrigues.

Faltam exatas três semanas para o solstício, quando a luz do sol incidirá perpendicular ao trópico de Câncer, na instauração do verão naquele hemisfério e do inverno aqui neste cortado pelo tópico de Capricórnio. Já é notória a posição do sol ao cortar o céu de leste a oeste em um arco francamente deslocado para o norte.

Por isto a luz chega aqui muito mais oblíqua e, consequentemente muito mais bonita. As sombras se espicham e se fazem notar mesmo ao meio-dia. Esta mesma inclinação obriga a luz a percorrer uma espessura maior de atmosfera, ou seja, "um filtro mais espesso". Sabem todos se dispersarem mais nesta filtragem os raios azuis - daí a cor da atmosfera! - e a que atravessa fica com uma coloração mais quente, mais dourada (com menos azul).

os caminhos da luz pela atmosfera (sem escala)
os caminhos da luz pela atmosfera (sem escala)

Se o cenário se enriquece visualmente por esta condição, o reverso da medalha vem da drástica redução da quantidade de energia recebida de nossa estrela - fonte quase exclusiva de toda energia utilizada por aqui, seja a recebida há milhões de anos e armazenada como petróleo ou aquela, bem mais recente, derivada da água evaporada e depois chovida e acumulada etc. e com menos energia tudo esfria, no sutil processo de fabricar invernos.

Em compensação, em Paris, Nova York e mesmo Londres, a abundância de energia muda no sentido inverso as qualidades de iluminação e aquecimento. Qualquer pessoa atenta já percebe a luz típica de inverno ou de verão, o ar mais frio ou mais quente e as consequências atmosféricas da falta ou excesso de energia (tormentas, furacões etc.).

O ciclo continuará a se repetir assim como aqui me repito.

Mon, 30 May 2016 11:09:28 -0300

Como tudo mais parece se repetir à medida que a gente vai vivendo... Só espero que não haja por aqui repeteco de ditadura e marcha da família!
Bjs
Ana

Bem, também espero, mas contei de uma "Marcha de Família" outro dia aqui na praia...


Mon, 30 May 2016 10:36:43 -0300

Boa repetição, irmão ;)
Não entendi essa frase:
Sabem todos se dispersarem mais

Quem "sabem"?
Em compensação, entendi finalmente as sombras compridas do meio dia, das quais ouvir falar mais de 50 anos atrás no seguinte diálogo:
mamãe: "Carmen mandou perguntar que história é essa de ter sombra ao meio-dia, porque ela está vendo as coisas com sombras compridas ao meio-dia e não sabe porque."papai: "diz que são as almas das pessoas saindo ao meio-dia."

      sem assinatura

Bem, sua deliciosa resposta valeu boas gargalhadas... (dizem fazer bem para a saúde).
A frase poderia se "Todos sabem dispersarem-se mais os raios azuis..."
Talvez nem todos saibam, mas o sujeito é TODOS.
Quanto às longas sombras do meio dia, é um depoimento como este seu que me faz repetir ainda uma vez coisas já ditas antes.
Obrigado pelo humor!


Mon, 30 May 2016 10:16:33 -0400 (EDT)

Clode,
Ainda uma vez vou dizer que adorei sua crônica. Poesia pura. A luz anda mesmo muito bonita e as nuvens andam cor de rosa. Isso tudo é outono/inverno, mas a sua crônica é poesia.
Beijos
Lucia

Lucia,
E poeta é quem tem olhos para ver a beleza na cor da nuvens, no relevo realçado pela luz lateral, na qualidade "européia" da luz do outono/inverno.
Obrigado.


Tue, 7 Jun 2016 17:54:03 -0300

... e felizmente, pelo menos por enquanto, essa rotina do sol continua exatamente a mesma, né?

      sem assinatura

Sim, século após século, ano após ano, o Sol e a Terra dançam a mesmíssima dança.
Ainda bem!

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