De repente, todo noticiário parece ter um único assunto: a impossibilidade de ligar para outro Estado. O entrevistador abre sua maratona diária repetindo uma gravação, de péssima qualidade, da mensagem automática de ligação não completada. O comentarista do jornal noturno entra em cena - jornalismo moderno tem ribalta, coxias e camarins - entra com um aparelho de telefone, na mão, para auxílio a expressão de sua ira. Até a presidência manifesta apreensão, pela voz do porta-voz, que presidente, depois de eleito, não sabe da própria voz para falar a presididos ou presidiários. Todos falam do mesmo tema, menos pelo telefone para estados vizinhos, ou não.
Ninguém mencionou a Internet. Nenhum dado sobre o aumento do fluxo de mensagens. Perto do telefone, as possibilidades de comunicação pela rede de computadores ainda é uma brincadeira de criança. Não conferi um eventual congestionamento das salas de bate-papo, mas lembrei de um velho trecho recolhido numa dessas salas, exatamente para comparar a velocidade do diálogo com uma conversa normal. Ei-lo:
(01:34:30) LMG fala para Fer: mas é chatinha que dá pena!!
(01:35:16) Fer ri de LMG: Nem fale!!! :-)
(01:35:42) LMG fala para Fer: eu morro de dó do pobre do marido!!
(01:36:39) Fer ri de LMG: Mas ele eh um falso-sonso, na minha opiniao... Alias, eita familhinha, hein?!!! :-) :-)
(01:36:58) LMG fala para Fer: vc precisa ver eles todos juntos!! hilário....
(01:38:42) Fer ri de LMG: Nao, please, poupe-me!!!!:-) :-)
(01:39:11) LMG fala para Fer: poupe-me
(01:40:05) Fer ri de LMG: So de lembrar do Supla imitando o Billy Idol ja me da dor nos rins de tanto rir!!! :-)
Cada um ficou com o apelido que escolheu, por ser apelido e não, nome. Com exceção da cor, nada foi mudado - está como aparece na tela do computador, inclusive com as simplificações e códigos comuns nesses papos. Dá até a impressão de que há mais conversa do que existe mesmo, por causa das indicações de hora e de quem fala com quem. Note que o papo mesmo é mínimo. Um locutor leria o diálogo em cerca de 25 segundos. Numa conversa, com dois interlocutores, talvez tomasse um pouco mais de tempo. Na "sala", como está indicado, levou 5 minutos e 35 segundos!
Quando a primeira câmara digital foi lançada, no início da década de 80, perguntaram a um representante da Kodak, se a poderosa indústria de filmes estaria ameaçada pela novidade. Ele respondeu que, comparando a qualidade da imagem digital com a fotografia, só via motivos para se preocupar se fosse o contrário: existissem apenas aquelas imagens e, então, o filme fotográfico estivesse sendo lançado...
Quando falo ao telefone, sempre me ocorre uma comparação semelhante: se existisse apenas a comunicação via Internet, pelos bate-papos públicos ou privativos, por meio de mensagens eletrônicas etc. o estardalhaço que seria se aparecesse o telefone!
Publicada terça-feira, 6 de julho de 1999
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