'Meu primeiro desenho' by  Anucha [1991]

Ameaças

21/11/13

'São dezenove horas e três minutos, mas o sabiá ignora o horário de verão e capricha na afinação. Como fundo na sinfonia, misturam-se trovoadas à passagem de um avião. O céu, coberto de nuvens, está mais escuro do que o habitual, afinal, para o sol, aqui, ainda faltam uns minutos para a seis da tarde e, não fossem as nuvens, ainda luziria acima do horizonte. As flores miúdas e amarelo vivo, que me disseram chamarem-se Chuva de Ouro, brilham contra o escuro que prenuncia tempestade.'

As ameaças anotadas acima, no dia dezenove, não foram além de chuviscos e chuvinhas. Hoje, um mês antes da inauguração do verão, o dia por aqui começou ensolarado e quente, com jeitão de verão. Agora, quase duas horas pelo horário solar, três, com o adiantamento dos relógios, os sintomas se repetem, com mais ênfase, mais ameaçadores: o belo céu azul cobriu-se de nuvens, escureceu, trovoadas se desenovelam, rolando sobre nossas cabeças e o vento noroeste achou rajadas fortes, que curvam as árvores menores e arrancam folhas e flores em 'chuvas' oblíquas intermitentes.

Restam buracos azuis entre as nuvens escuras e os sopros ecoam como precursão singular. Os primeiros pingos, generosos, tamborilam sobre as folhas que eu diria folhas tambor - ignoro o nome da planta que se espalhou com sucesso por aqui. Todavia, em vez de se abrirem as comportas em algum tipo de inundação, como os efeito sonoro sugeria, os pingos, grandes, é fato, mal conseguem molhar o chão. As trovoadas insistem, embora mais distantes. Pássaros ignoram o chuvisco de grandes gotas e piam, cada um o seu piar.

Outro sabiá - seria o mesmo de anteontem? - desafia o temporal com sua voz poderosa. Sempre me espanta tanto som sair de um ser tão pequeno!

Como toda vida inclui a morte, a época implica grandes tempestades, só não se sabe quando virão. Parou de pingar.

21/11/2013, at 16:28

Gostei muito. bj

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Que bom!

O tempo fica esquisito com essas águas que não deságuam, né?


22/11/2013, at 11:17

adorei, lindo, me senti dentro da situação descrita, você é ótimo (d)escritor!!!!!!.
Adoro principalmente "rovoadas se desenovelam, rolando sobre nossas cabeças e o vento noroeste achou rajadas fortes, que curvam as árvores menores e arrancam folhas e flores em 'chuvas' oblíquas intermitentes."

copy:
1. tirar a vóirgula entre o sujeito (As ameaças anotadas acima no dia dezenove) e o predicado (não foram além de chuviscos e chuvinhas.) As ameaças anotadas acima no dia dezenove não foram além de chuviscos e chuvinhas.

2. Falta "s" em generosos Os primeiros pingos, generoso,

3, Acho que falta um "de"
Todavia, em vez se abrirem as comportas

      sem assinatura

Minha mestra e copidesque, obrigado pelas palavras! Gostei do (d) entre parênteses. Descrever é apenas relatar o que se vê, mas muitas vezes não vemos! Ainda desta vez, obrigado pelas correções. (Em vez de cortar a vírgula, pus a outra, que faltava).


23/11/2013, at 06:48

Maravilhosa. Assisti a cena evocada pela sua narrativa. Obrigado! Abração. Ebert

Obrigado eu, por suas palavras carinhosas.

Abraço, c.

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