Sempre achei que a um prisioneiro, seja ele quem for, qualquer que seja seu crime, cumpre tentar fugir e ao planejamento e execução da fuga deveria dedicar todo seu tempo, toda sua energia. O mesmo imperativo me assalta diante de um pássaro engaiolado, embora uma gaiola de arame roube menos a liberdade. Pela exígua janela da cela de uma penitenciária pouco mais se avista que as muralhas do presídio. É isto que me assusta: perder o horizonte, sem metáfora, literalmente. Evoco na bagunça das lembranças a cena de um filme, dos anos oitenta, Daunbailó (Down by Law), de Jim Jarmusch, com Roberto Benigni, John Lurie e Tom Waits. Aparecem como prisioneiros, em uma cela sem janela. Na cena o italiano usa um carvão para desenhar na parede nua ampla janela descortinando uma linda paisagem. Ou seja, precisamos de espaço, espaço onde nosso olhar possa voar, tanto quanto de ar para respirar. E, de repente me ocorre que, talvez estejamos muito sufocados. Que talvez estivéssemos distraídos enquanto se erguiam as paredes de nossa clausura ou elas surgiram lenta e sutilmente e nos acostumamos à prisão... O Cinema deu o alerta. Depois da ousadia do primeiro close, a câmera foi chegando e se tornou íntima das personagens. Depois, quiçá pela simplificação técnica implícita no close-up, chegamos a filmes que emendam close com close da primeira a última cena. Cansa! Rostos, olhos, bocas, gestos, botões e mil minúcias, mas falta ar. Ar para se olhar. No subterrâneo, algo em nós clama pela amplidão! Anseia por espaço, pelo longe, mesmo se não se estender tanto quanto nos bons faroestes. E logo cogito se este abuso do close-up, se tais patchworks de supercloses não são apenas reflexo de uma carência maior de amplidões em nossas vidas. Se não nos falta um horizonte impreciso e circular... |
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