A cena me lembrou pinturas clássicas, vistas na infância, de paisagens campestres ou marinhas com céus espetaculares de muitas cores e algumas nuvens, céus indo de um ligeiro azulado a tonalidades fortes de azul celeste, mesclados a uma gama de cinzentos e brancos além do vasto espectro entre o rosado e o alaranjado.

Constatei, porém, em mais ou menos meia hora, estar o fascínio não num instantâneo da paisagem atlântica, mas a permanente mutação: da luminosidade, dos brilhos, dos reflexos e, consequentemente, do estado de espírito do ambiente. Ali, importava o filme, apesar do esplendor de cada fotograma. Aquele anoitecer merecia um prêmio, apesar de efêmero e volátil.

Uma larga panorâmica, de leste a oeste pela linha do horizonte, levava da visão de vultosas nuvens a sobrepor-se à pedra do Leme até um rasgo muito luminoso encimado por nuvens escuras além do Forte de Copacabana. Enquanto isso as águas brincavam de se tingirem das belas cores roubadas à abóbada.

Mais um pouco e as fachadas dispostas em um arco suave ao longo da praia fugiam na perspectiva costumeira, porém a refletir com vigor aquele rasgo luminoso de luz nas bandas do oeste. Ao mesmo tempo, escurecia e as primeiras luzes dos homens se acendiam, umas após outras, com um brilho a se igualar àquele do céu estendido sobre as construções.

Pouco depois e por um curto momento, todo céu até o horizonte ao sul, se incendiou de vibrantes colorações de rosas e alaranjados e, é óbvio, tingiu-se também a amplidão líquida com as mesmas cores. Ainda, no horizonte, embarcações se iluminavam sucessivamente - tudo se acendia na despedida do dia.

Ia-se o dia e a noite ainda era apenas promessa. Noite de carnaval, lembrou-me ao passar um senhor com uma mitra cardinalícia vermelho berrante decorada por uma cruz de papel laminado dourado...

Tue, 28 Feb 2017 16:44:07 -0300

Lindo, Clôde! Suas observações da natureza são sempre bonitas, tão perceptivas, que a gente se sente vendo. Obrigada!
Bjs
Ana

Adoro ver, Ana, deve ser por isto.